O: É impressionante o poder que
vai se instalando de perceber de instantâneo, os requintes dramáticos
produzidos pelo imaginal condicionado.
F: De tão dramáticos, eles viram
uma comédia dramática... sem sentido quando observados atentamente...
alimentados pelo coletivo... pura preocupação com tudo...
O: Isso não era percebido, e é o
que causava nossos momentos depressivos, toda forma de angústia.
F: Isso foi a exata natureza de
todo sofrimento nosso. Foi o que nos impediu, lá atrás, de pelo menos termos
esse estado que temos agora, se é que isso existe...
O: Conforme isso é visto como uma
dramaturgia do imaginal, não dá espaço para o sensorial se identificar.
F: Isso que eu quis dizer ontem,
na percepção de como quando não observado atentamente e de forma relâmpago,
pega o sensorial gerando ansiedade, angústia, pânico, solidão, etc.
O: Antes isso ocorria de imediato
e, com essa identificação do imaginal, a psicossomatização ocorria em conjunto,
daí a letargia, a total perda de energia.
F: Antes não dava para perceber
que era o imaginal e sim apenas pegar o lance que já estava instalado no
sensorial... era um constante reclamar do leite derramado pelo imaginal. Hoje
há um acúmulo de energia.
O: Agora, a observação não deixa
a totalidade da energia escoar, mas ainda perdemos uma pequena parte dela.
F: Parece isso... Foi isso que eu
disse com o lance de não perder “tempo” com a observação... Aqui precisa ser
vista mais detalhadamente. Já não há energia desperdiçada em reclamar ou catar
a migalhas. Já não há mais preocupação com a própria observação e a não
identificação. É notório o estado alterado de preocupação em que vivíamos. Isso
fica muito claro quando observamos não só a nós mesmos, mas também as pessoas
que não estão nesse momento de percepção. Não se trata de um imaturo sentimento
de superioridade, como os que alimentávamos antigamente de modo totalmente inconsciente.
Mas era pura preocupação consigo mesmo, causada pelo imaginal condicionado.
O: Entendo o que você está apontando.
F: Camadas e mais camadas de estrutura
eram acrescidas a cada instante, pela preocupação excessiva consigo mesmo, em
identificar e nomear o que se passa num determinado momento do processo. Quem
não está nem nisso, é só identificação com a preocupação que rola... Com a gota
da chuva que vai cair, se vai chover na segunda-feira, porque pode acertar o
buraco que tem no canto esquerdo do telhado na sala. Entende? Claro que
entende! Sei que você já se percebeu disso! Essa a energia que não é mais gasta
com essas viagens num futuro imaginado, fica aqui, dando cada vez mais clareza na
percepção do aqui e agora, certo? É isso que percebo por aqui!
O: Não tiro uma vírgula; trata-se
da mesma percepção até aqui.
F: Sério? Nossa!
O: É impressionante perceber o
quanto fomos joguetes do imaginal sensorial condicionado, bem como a percepção
de como não somos mais hipnotizados por seu mecanismo.
F: Exatamente! Aqui você acertou
na mosca! Esse é o ponto central que demonstra todo processo e que desmonta
toda, toda, toda estrutura em que estava sustentado o que tínhamos por viver.
Não estou afirmando com isso, que já saímos totalmente da estrutura. Digo no
sentido mais perceptível do que acontece por aí: trabalho, carreira, finanças,
metas, planos, crenças, etc., etc., etc. Não estamos mais grudados nisso, tendo
só isso por vida. Ao menos não temos mais nada a ver com isso, a não ser no mínimo
que é necessário para a sustentação do corpo. Ao menos foi vista com clareza, a
ilusão da compartilhada estrutura social condicionada.
O: Hoje, por ação da observação
passiva não reativa, temos condições de ver lucro, onde todos só enxergam
prejuízo.
F: Na mosca. Isso que eu queria
dizer. A observação pega até os espaços entre os pensamentos. Ontem isso ficou bem
claro; durante a observação havia momentos de espaços curtos entre os pensamentos,
e mesmo isso não é fator sine qua non para ocorrer algo. Aqueles lapsos vêm do
nada, de modo misterioso.
O: Tem que ocorrer um libertário
derrame de lucidez amorosa e integrativa. Isso é claro para mim. No mais, só continuaremos
a conhecer mais e mais, tanto o funcionamento da estrutura quanto da observação,
tomando cada vez mais consciência do viver em limitação que a estrutura produz,
um viver destituído de real comunhão e propósito. Por mais que você queira, a
estrutura impede isso. Você fica cada vez mais consciente da sua impotência em
saber o que é liberdade, felicidade e amor impessoal.
O: Sem a ocorrência de tal
derrame, permanecemos observando, em meio de um viver insosso, a nossa sede de
plenitude.
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