20/05/2020

Sobre a percepção do oco


C: O que está acontecendo aqui, é como se o oco tivesse fases de tamanho, em relação às buscas e aos condicionamentos. Então ele antes ele era dominantes em relação ao sentimento de oco, então, eu estava sempre buscando ainda, e depois vinha a percepção que que era falso o que buscava, e depois quebrava a cabeça até perceber que isso não tinha nada a ver.

Agora não! Parece que a sensação de oco tomou uma dimensão tão grande que ele ficou dominante e relação às buscas. Então ficou parecendo que só tem o oco! Então, tudo antes quando eu procurava alguma coisa para fazer, aí vinha a observação e me dizia que era falso... agora já nem tem essa observação, para poder vir a percepção de que é falso! Quando estou na busca de qualquer coisa, a percepção do falso já brota assim espontaneamente... É como se eu estivesse de olhos fechados e, ao abri-los, a coisa já está ai!  Já está aí! Parece que nem dá tempo para pensar que é falso!

Então isso ai parece que aumenta ainda mais o tédio, então esses dias eu estou sentindo assim, como se o oco tomou conta de tanta coisa, que antes de qualquer coisa que passar na cabeça, já vem o falso junto brotando, e pronto! Não dá pra fazer mais nada, então parece que esse oco aumentou de dimensão mesmo, e ele ficou dominante à relação dessas buscas, em ficar buscando alguma coisa, desejando alguma coisa.

Eu nem sei explicar direito, mas é um vazio assim, é um “ocão” grandão tomando conta de tudo aqui! Mas, mesmo com tudo isso, tem a percepção de lucidez, de poder ver tudo isso, e não ficar louca aí, jogando pedra em avião, sabe? É uma coisa de um “oco lúcido”! Dá pra entender isso?

F: Ontem à noite foi tão interessante a percepção desses impulsos emotivos reativos escapistas, onde eles ficam em espaços muito curtos, pedindo para que eu faça isso ou não faça aquilo; para que eu dê uma volta; para que eu coma algo, etc... Para ver um filme, vai ler! E esse fundo, essa sensação de oco, sempre foi isso!

Eu estou num momento (olha o eu novamente aí!)... Aqui está se manifestando bastante dor de cabeça... muita dor de cabeça, que nem com Neosaldina passa! Bastante dificuldade de dormir, aliás, desde que se instalou o processo aqui... não tem sido nada fácil dormir! (risos)

Mas eu venho percebendo que uma das bombas que joga gente numa espiral ilusória — vamos dizer —, é todo esse conteúdo que vem desse material espiritualista: os textos Ramana Maharshi, Nisargadatta Maharaji, Krishnamurti (e vocês ainda leram muito mais coisas)... Fica uma bomba dentro da gente, não é? Que a gente está aqui nessa sensação de oco, mas a mesma já está sendo percebida, tudo isso está sendo visto! Fica uma bomba do tipo: “Por que que aquilo que eles descrevem não está acontecendo comigo daquele jeito?

E é engraçado ver isso, porque tem todo um contexto cultural, social, outro momento, tudo, tudo, tudo! Você vê que a mente condicionada cria uma “baboseira”, não é?... Tudo pra não ficar com o que tem, não é? Que é esse sentimento de oco! Você pode ir lá comer uma bolachinha salgada pra tentar passar a dor de cabeça, tomar uma água, pra ver se ajuda... Mas o que é está aqui, a sensação do oco está aqui!

É interessante perceber o movimento da mente em direção aquilo (que lemos nos livros), porque ela usa esse pulo do gato pra fugir desse oco e até aumentar esse jogo... A mente fica brincando com isso! Ela quer tirar a gente da vivência dessa sensação de oco. Ela tenta tirar a gente desse oco por meio desses textos desses homens, mas de fato, o que tem é isso: a sensação do oco!
Não estou comisso querendo reclamar da sensação do oco — nem tem mais nada da antiga vitimização —, está tudo aqui! Já não fico mais nessa preocupação se vou dormir ou não, não é mais nada disso! 

A: Um ponto importante que é percebido aqui, é que a clareza que ficou é a de que o sentimento de oco sempre esteve presente e ele sempre foi um movimento de fuga. As vezes o movimento é grande a ponto de fazer você mudar de local de serviço, fazendo até mesmo pedir a conta, pra ir trabalhar como autônomo, depois faz voltar para um trabalho fixo, ai volta novamente a trabalhar como autônomo... e essa sensação de oco, de estar sempre esperando que alguma coisa aconteça foi a única constância nisso tudo! 

Então é percebido e, apesar de ser muito sutil, por vezes passa despercebido, mas a maior parte do tempo, você consegue ver o movimento na tentativa de sair desse sentimento de oco. Esse processo de descondicionamento, ele tirou o sono! Trouxe constantes dores de cabeça, trouxe aumento do peso, depois trouxe o emagrecimento... (risos!) Trouxe percas de amizade ... (risos!)...
Acordei nesta noite (sempre acordo de madrugada), e essa sensação do oco durante a madrugada — aquele silêncio, não é? —, e a mente tenta fugir um pouco... um pouco não! Parece bem o que o confrade “F” falou: dessas experiências que foram vistas, e ali na madrugada se manifesta aquele enorme silêncio, então a mente prega que ela está entrando naquilo que foi lido, ou seja, em algo diferente da sensação de oco, que ela está entrando em alguma outro estado, que está acontecendo alguma coisa ali. Mas, na verdade, é um movimento só para tentar fugir da sensação de oco, não é? É só para não ficar com o que é, ali! Hoje dá pra peceber isso muito bem!

Hoje de madrugada, isso ficou bem claro mesmo! A mente usando de tudo que já foi lido do que aconteceu com esse mestres que o confrade “F” citou, e a mente foge dizendo que você está vivendo aquilo que o Ramana fala (Risos!)... Mas é só um movimento pra fugir do vazio, do oco que ali se manifesta.

Deca: O oco está aqui! Ele veio pra ficar; e faça o que fizer — ou não faça —, é tudo dentro do conhecido, dentro dessa mente adquirida.

O oco não é nada mais nada menos do que a abstinência de todos os condicionamentos que a gente teve vida fora. Então, é a falta que sentimos desses condicionamentos, porque, no fundo, a mente quer as coisas que são dela, ela quer vivenciar o conhecido. Então, ela tenta, mas hoje já não dá mais...

Porque o oco veio, chegou se instalou aqui, e agora não tem mais jeito: não tem mais como voltar, pois já foi visto o falso das coisas. Então, não tem nem essa!
É interessante porque, toda sugestão que for dada pra você fazer, é do conhecido, é da mente adquirida, e pra não fazer, também é da mente adquirida!

São sugestões que a própria mente aprendeu dentro do conhecimento adquirido, de todas as literaturas e tal, em que você tem que fazer alguma coisa, ou que você não tem que fazer nada! Isso também acabou sendo um condicionamento.

Então, é um momento aqui em que realmente a mente diz que é de apatia, não é? Por que? Porque é o que ela consegue mensurar, é o que está dentro da limitação dela, então ela diz que é apatia, que já não tem mais aquela euforia dela, aquelas coisas que você dava risada e tal.

Hoje eu fico vendo as coisas que eu dava risada, e vejo que não tem nada a ver! Não tinha graça nenhuma! Mas é o condicionamento do que está estabelecido, então, tudo isso ficou oco mesmo, porque qualquer coisa que você pensa... É a própria mente adquirida querendo tomar o lugar dela de novo, que dizer, o lugar que ela acha que tem, que na verdade não é dela, não é? Ela é uma impostora, ela se apropriou da real natureza e a gente fica aí, tem hora, em que não sabe o que fazer.

Vem também a insatisfação, a solidão, o tédio e tal, em volta desse vazio aí, desse oco, desse grande buraco aí que parece que não tem fim, que não tem fundo. E aí fica só olhando! Só vendo aí o que vem!

Mas hoje é uma coisa muito interessante... porque já não tem aquele sofrimento, não tem mais a identificação, pois ela já é vista logo de cara.

Então, a coisa fica mais leve, não fica tão forte. Mas é um momento interessante, porque mesmo a mente trazendo ali várias situações, mas já não tem mais nada a ver, já não pega, porque você percebe o falso de tudo aquilo, e não tem como, não é?

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O sentimento de oco como antecâmara da Natureza Transpessoal