29/01/2021

Não confunda o fluxo mecânico com a capacidade de pensar

 

F: Boa tarde! Percebo que chegamos no ponto de ver que o fluxo roda por si; portanto, a meu ver, não existe um pensador, um agente causador do fluxo. Se a observação se aprofundar, o indivíduo verá que, se ele não ficar esperto, pegará a primeira sugestão que o fluxo traz, dando-lhe a impressão de que ele está pensando. O fluxo não tem lógica alguma, pode até aparentar ter mas, de fato, não tem. Então, chegamos no ponto de ver que só existem pensamentos, só existe fluxo; não existe um causador, um pensador, seja lá o que for. Enquanto o indivíduo não chegar nessa percepção, é só disputa na cabeça, entre o jurado e o juiz. Veja que louco! Pensamento ou o fluxo criou tudo isso, sendo que na real, só há fluxo.

O: Não vejo como fato, sua afirmação de que “só existe o fluxo”.

F: Quando se percebe que só há o fluxo mecânico e não solicitado, esse é um fim de grande parte do sofrimento. No entanto, o indivíduo pode cair num sofrimento maior após ver isso, sofrimento expresso no sentido de querer, por meio de seus limitados esforços, parar o fluxo. Mas veja, aqui, é novamente um truque do fluxo. Novamente ele vem com a ideia de algo fora do fluxo, que pode deter o fluxo. Então, tem o fluxo e o agente que vai deter o fluxo.

O: Vamos com calma, pois é preciso muito cuidado aqui. Veja, não se puder negar a faculdade de pensar, a capacidade de refletir a respeito de algo.

F: Eu vejo que só tem fluxo.

O: Observe melhor... Uma coisa é o fluxo mecânico e não solicitado, outra coisa bem diferente, é o poder de fazer uso consciente da capacidade inata de pensamento. O pensar lógico e racional, a capacidade de exercício de reflexão, tem o seu lugar de ser. Para você escrever suas percepções, você faz uso do que a capacidade de pensar com lógica e racionalidade, percebeu a respeito do fluxo. Portanto, não foi o fluxo que trouxe esta percepção. O pensar racional tem cadência com certa lógica, mesmo que limitada. Já o fluxo não, é desconexo, ilógico, contraditório em si mesmo.

F: Mas aí está usando uma capacidade lógica racional.

O: A capacidade de raciocínio com base na razão, tem lógica, tem razão de ser. Já o fluxo não. Quando você pensa sobre o fluxo, não é o fluxo que está atuando. É preciso saber, com muito cuidado, separar o trigo do joio. Pensar é uma maravilhosa capacidade natural dos seres humanos, já o fluxo mecânico e não solicitado, é uma adulteração dessa capacidade, portanto, uma forma de doença, a qual, nós, por uso consciente do pensamento lógico e racional, denominamos de “pensamentose”. Querer parar o fluxo não é parte do fluxo, é só mais um dos condicionamentos, mais uma ilusão, mais uma forma de impulso emotivo reativo escapista.

Portanto, há o fluxo mecânico não solicitado, assim como há o pensamento ilusório e o pensamento puro, o pensamento lúcido. Isso precisa ficar muito claro. Em nossas conversas, apontamos para a percepção dos dois primeiros momentos, sendo eles, o fluxo mecânico não solicitado e o pensamento enredado por alguma forma de percepção ilusória quanto a realidade. Já vimos antes que o pensamento, por meio da observação, vem ganhando certa lucidez, a qual se mostra responsável pela percepção do próprio mecanismo do pensamento, mostrando também, a limitação do pensamento e a necessidade de maior lucidez.

F: Exatamente. O uso lógico racional não é o caso. Está visto. Pensamento na verdade vem sendo usado por essa inteligência que parte da observação passiva não reativa, fazendo com que a percepção da realidade, se torne cada vez mais clara e lúcida.

O: isso.

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