F: Boa tarde! Percebo que chegamos
no ponto de ver que o fluxo roda por si; portanto, a meu ver, não existe um
pensador, um agente causador do fluxo. Se a observação se aprofundar, o indivíduo
verá que, se ele não ficar esperto, pegará a primeira sugestão que o fluxo traz,
dando-lhe a impressão de que ele está pensando. O fluxo não tem lógica alguma,
pode até aparentar ter mas, de fato, não tem. Então, chegamos no ponto de ver
que só existem pensamentos, só existe fluxo; não existe um causador, um
pensador, seja lá o que for. Enquanto o indivíduo não chegar nessa percepção, é
só disputa na cabeça, entre o jurado e o juiz. Veja que louco! Pensamento ou o
fluxo criou tudo isso, sendo que na real, só há fluxo.
O: Não vejo como fato, sua afirmação
de que “só existe o fluxo”.
F: Quando se percebe que só há o
fluxo mecânico e não solicitado, esse é um fim de grande parte do sofrimento.
No entanto, o indivíduo pode cair num sofrimento maior após ver isso, sofrimento
expresso no sentido de querer, por meio de seus limitados esforços, parar o
fluxo. Mas veja, aqui, é novamente um truque do fluxo. Novamente ele vem com a ideia
de algo fora do fluxo, que pode deter o fluxo. Então, tem o fluxo e o agente que vai deter o fluxo.
O: Vamos com calma, pois é
preciso muito cuidado aqui. Veja, não se puder negar a faculdade de pensar, a
capacidade de refletir a respeito de algo.
F: Eu vejo que só tem fluxo.
O: Observe melhor... Uma coisa é
o fluxo mecânico e não solicitado, outra coisa bem diferente, é o poder de fazer
uso consciente da capacidade inata de pensamento. O pensar lógico e racional, a
capacidade de exercício de reflexão, tem o seu lugar de ser. Para você escrever
suas percepções, você faz uso do que a capacidade de pensar com lógica e
racionalidade, percebeu a respeito do fluxo. Portanto, não foi o fluxo que
trouxe esta percepção. O pensar racional tem cadência com certa lógica, mesmo
que limitada. Já o fluxo não, é desconexo, ilógico, contraditório em si mesmo.
F: Mas aí está usando uma capacidade
lógica racional.
O: A capacidade de raciocínio com
base na razão, tem lógica, tem razão de ser. Já o fluxo não. Quando você pensa
sobre o fluxo, não é o fluxo que está atuando. É preciso saber, com muito
cuidado, separar o trigo do joio. Pensar é uma maravilhosa capacidade natural dos
seres humanos, já o fluxo mecânico e não solicitado, é uma adulteração dessa
capacidade, portanto, uma forma de doença, a qual, nós, por uso consciente do
pensamento lógico e racional, denominamos de “pensamentose”. Querer parar o
fluxo não é parte do fluxo, é só mais um dos condicionamentos, mais uma ilusão,
mais uma forma de impulso emotivo reativo escapista.
Portanto, há o fluxo mecânico não
solicitado, assim como há o pensamento ilusório e o pensamento puro, o
pensamento lúcido. Isso precisa ficar muito claro. Em nossas conversas,
apontamos para a percepção dos dois primeiros momentos, sendo eles, o fluxo
mecânico não solicitado e o pensamento enredado por alguma forma de percepção
ilusória quanto a realidade. Já vimos antes que o pensamento, por meio da
observação, vem ganhando certa lucidez, a qual se mostra responsável pela percepção
do próprio mecanismo do pensamento, mostrando também, a limitação do pensamento
e a necessidade de maior lucidez.
F: Exatamente. O uso lógico racional
não é o caso. Está visto. Pensamento na verdade vem sendo usado por essa
inteligência que parte da observação passiva não reativa, fazendo com que a
percepção da realidade, se torne cada vez mais clara e lúcida.
O: isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário