27/01/2021

O medo do desconhecido e o culto a respeitabilidade

O: Os últimos textos e áudios, com certeza, vão afastar muita gente do canal. Já é de se esperar, pois já vi isso antes. Quando um novo conteúdo do paradigma se apresenta, quem está agarrado no antigo conteúdo, acaba tremendo nas bases.

F: Sério? Por quê? Nossa cara! Para mim, o momento é simplesmente lógico, racional ao extremo, muito óbvio. Negar isso é sinal de imaturidade.

O: Isso é natural, pois novos conteúdos do paradigma sempre detonam a crença cristalizada.

F: Mas, como, depois de chegar isto, alimentar esperança no conteúdo de qualquer crença? Como ficar com um Deus imaginado, uma alma ou um espírito imaginado?... Então, tira lá os textos, deleta tudo.

O: Nada disso; a percepção da verdade é o que importa. É como dizia um velho caminhante: “Não importa se você morrer por isso!”

F: Para mim, isso é a mais pura verdade, e o restante, é investir no túmulo da debilidade; estou fora. É assim que eu vejo. Mas quem mais está vendo isso que estamos vendo?

O: Não sei dizer. Só sei que aquele que ainda está apegado em alguma prática espiritualista, não fica, acaba pulando fora.

F: Creio que isso é por causa do oco descomunal, gerado pelo processo de descondicionamento.

O: Quem ainda está na primeira fase, que é a fase de total identificação com a matéria e com a satisfação dos instintos degenerados pela cultura, nem chega aqui, pois não compreende nada do que é dito.

F: Pesado, bem pesado! Na boa.

O: Quando o indivíduo chega aqui, não é de se admirar que ele negue tudo isso por mais de três vezes, como no arquétipo de Pedro.

F: Tem uns textos aí que você compartilhou, que foram longe.

O: A maioria pula fora e prefere se agarrar na simulação de paz, de amor e de somos todos um, ou coisa do tipo. Cansei de ver isso! Eu mesmo senti na pele essa estagnante tentação!

F: Aff! Mas isso aqui quebra tudo isso. Se o indivíduo pula fora, então, é porque não viu de verdade, estava só no nível do intelecto. Se viu, não tem como negar! Isso aqui quebra todo condicionamento de paz e amor! Isso aqui vai rasgando todas as poses, toda simulação! Se a consciência pinçar um pouquinho que seja... acabou!

O: Esse pinçar produz um enorme choque, uma profunda e assustadora sensação de absurdo.

F: Se a consciência pinçar com este conteúdo, o indivíduo toma o pega que quebra o Rap do Cotidiano. Fica terrível mesmo, se o indivíduo não vê isso de forma visceral e lê esse conteúdo. Se ler, sem ver... Aí é só ansiedade... O indivíduo fica quase zureta. Se ele não viu o imaginal, do mesmo modo como estamos vendo... Nossa, véio! Melhor mesmo cair fora daqui.

O: Mas se o indivíduo viu um pouquinho só que seja, o medo vai fazer ele fugir por um espaço de tempo e, toda vez que bater a ansiedade, ele vai voltar aqui... Os bons filhos sempre voltam, porque não encontram nada como isso na internet. Pode procurar!

F: Se a consciência pegou, está enrolada, não tem jeito.

O: Mas o indivíduo volta a acompanhar o conteúdo, no anonimato, pois é difícil o orgulho assumir a veracidade disso.

F: Véio, quem chega nisso, não tem mais como negar que não sente com propriedade, não tem mais como fugir da inquietude, pois vê tanto a falência do imaginal pessoal e coletivo, quanto a impotência de, pelo próprio esforço, transcender esse imaginal. Impossível não enxergar o quanto fomos hipócritas, o quanto fomos simuladores e que, na real, nada sabemos disso que chamam de amor, liberdade e felicidade.

O: Quando olho para trás, vejo quão ridículo que eu era ao querer negar tudo isso e, pelo esforço, alcançar o que é liberdade, felicidade e amor.

F: Tudo irreal, véio! Pelo limitado esforço pessoal, você não consegue alterar nada disso que vê em você. Depois que você viu isso, então, me diz, o indivíduo vai para onde? Vai investir no que? Como conseguirá refutar isso que derruba todos os apoios estagnantes?

O: Quando chega aqui, nesse ponto do processo de descondicionamento, a maioria sai correndo, não consegue, o medo não deixa abrir mão do insatisfatório conhecido... A mente grita como no filme Revolver: “Tenha medo de mim, tenha medo de mim!”... “Quem é você sem a minha ajuda? Quem é você sem mim?”...

F: Concordo! É bem isso que ocorre! Difícil dormir, o travesseiro fica pesado.

O: Aí fica fácil compreender a arquétipo cristão: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não é digno do reino dos céus"... Veja que tenho por reino dos céus, não uma imaginada dimensão no além, mas sim, o estado incondicionado de ser.

F: Muito claro para mim!

O: Se no momento da fuga do padrão condicionado de ser, você insistir em olhar para atrás, não tem como não virar uma estátua de sal... Para ficar com isto, requer-se uma profunda e até brutal honestidade consigo mesmo, para poder se questionar se aquilo em que buscava segurança psicológica, realmente tem o poder de lhe outorgar liberdade, felicidade e significativo sentir.

F: Mas eu procurei até nos áudios anteriores, um tempo atrás, e não encontro material como esse que agora você está subindo, com tanta intensidade e clareza. Esse material atordoa, véio! O indivíduo precisa estar realmente cansado, precisa realmente querer ser radical. Exatamente porque só fica sensação, o imaginal vira vento... Não tem mais nada para fazer, mais nenhum lugar para correr, só resta a solitária e silenciosa observação. Aliás, de que adianta falar, se a maioria não compreender aquilo que você tenta comunicar? A estrutura é apoiada pela segurança ilusória.

O: Aquele que não viveu a experiência do profundo processo de descondicionamento, ao se deparar com isto que falamos, está condenado ao ato ignorante da rejeição daquilo que desconhece, ou às enfadonhas análises conceituais que, fatalmente, engessam o que é dinâmico e vivo.

F: Caracas!

O: O finado professor Huberto Rohden já alertava para essa recusa de aprofundamento, que sempre é causado pelo medo de se abrir ao desconhecido. Dizia ele: “"Se nestas páginas você encontrar algo que lhe seja estranho e inassimilável, não se escandalize nem procure assimilá-lo a força; ignora-o tranquilamente e continue a alimentar a sua fé com as doutrinas habituais, adaptadas ao nível atual da sua evolução religiosa. Mantém, todavia, as portas da sua alma aberta rumo ao infinito; porque, com a progressiva maturação do seu ser espiritual, o que hoje lhe parece absurdo, herético e inaceitável, pode amanhã vir a ser o mais vigoroso alimento de sua alma... A fim de você compreender certas coisas que hoje não pode compreender, pouco aproveitam análises meramente intelectuais... Assimile o que você puder, das verdades destas páginas — e crie em sua alma uma atmosfera propícia para compreender mais”.

F: Forte!

O: Resumindo: Muito se pode dizer à poucos. Pouco se pode dizer à muitos. Muito nunca se pode dizer à muitos. Até porque, muitos que chegam aqui, de alguma forma já se organizaram como tal, em alguma escola mística, esotérica, espiritualista, se entregaram à força adulterante da respeitabilidade, se tornaram um medalhão, um mestre, um mentor, um guardião das tradições ou outro nome qualquer...

 F: Mas se o indivíduo parar para observar mais profundamente, por um instante que seja, verá que isso é real, apesar de doloroso.

O: Muito difícil abrir mão dessa respeitabilidade, pois isso significa se atirar na solidão psíquica.

F: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um indivíduo rico em respeitabilidade, entrar no estado incondicionado de ser.

O: Quem quer abrir mãos das suas muletas e seguir em carreira solo, rumo à terra da autonomia psíquica?

F: Exato! Veja, depois disto, não há nada mais no que se agarrar, pois tudo é visto como folhas ao vento.

O: Só quem é pobre de doação psíquica pode entrar no reino da autonomia psíquica, os que são ricos em respeitabilidade, não conseguem atravessar essa porta.

F: Cruel, véio! Cruel! Mesmo a gente tendo sentido aquilo que os conceitos não alcançam, isso aqui, arrebenta tudo.

O: A verdade é cortante como diamante, mas também é doce como a flor de pessegueiro. Veja, a respeitabilidade impede a originalidade... ela exige uma pose pré-estabelecida pelo imaginal coletivo do clã específico.

F: Ela é a própria muleta imaginária, transvestida de respeito. Aqui o imaginal aplicou o golpe.

O: A respeitabilidade gera ajustamento, tanto para quem é respeitado, como para quem é o respeitador.

F: Fato! Exato!

O: Tudo que é envolvido pela respeitabilidade, acaba virando algo parecido com aqueles almoços de domingo em família, onde nada mais profundo tem espaço, só o politicamente correto, o tradicionalmente aceitável.

F: Muito estranho isso, mas é a mais pura verdade! Acabamos repetindo as mesmas coisas, fingindo que nunca falamos sobre elas.

O: O seguidor limita a expressão do seguido, já o seguido, limita a expressão do seguidor... Fica só o culto da respeitabilidade, como bem canta o grupo Living Colour: “Look in my eyes, what do you see? The cult of personality… I know your anger, I know your dreams, I've been everything you want to be… I'm the cult of personality. Neon lights, a Nobel Prize, Then a mirror speaks, the reflection lies, You don't have to follow me, Only you can set me free, I sell the things you need to be, I'm the smiling face on your T.V. I'm the cult of personality, I exploit you still you love me.

F: Mas véio! Hoje reli todos os textos dos últimos dias... Vou te dizer, tem de tudo ali... Acho que você precisa colocar neles, o símbolo do Biohazard.

O: A respeitabilidade sempre gera um tipo de lucro, que para nós, o mesmo lucro é visto como prejuízo. ... “You gave me fortune, You gave me fame, You gave me power in your own god's name, I'm every person you need to be, Oh, I'm the cult of personality”.

F: Sim. Muito forte tudo isso!

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