F: Então, vemos que a estrutura é
tanto passado como futuro, o que deveria ser, o que será, o que foi, como o que
é, no entanto, nem o que é, ainda é de fato o que é. Mas vamos ficando com o
que é, e as interpretações vão caindo por terra. Não ocorre mais afetação.
Todos os prós e contras, acaba toda a babaquice conceitual e só fica mesmo, essa
inquietude primeira. Isso é o que percebo aqui, é o que sinto.
O: Quando você diz “babaquice”, não
seria uma forma de ainda levantar prós e contras?
F: Pode ser sim. Digamos então,
que agora, você vê todo jogo, tudo.
O: Não seria melhor dizer que
vemos uma parte mais avançado do jogo? Não creio que podemos afirmar que
estamos vendo tudo.
F: Não vemos, porque o fluxo não
parou até agora, ele continua em sua mecanicidade não solicitada. Ele segue, não
é algo estático. Essa é a percepção do momento, e do próximo, próximo,
próximo... Digamos assim, só para nos comunicarmos.
O: Mas é ainda uma percepção
fragmentada do momento, sempre presa num ponto mais pessoal.
F: Acho que por isso, a conclusão
é abandonada cada vez mais rapidamente. Concordo que ela ainda é fragmentada,
no entanto, percebo que nela estão ocorrendo significativas mudanças. Seus
principais padrões, vão sendo vistos na estrutura. Isso é o que tenho percebido
até então. Enfim, é isso!
O: Como a identificação com o
fluxo vai caindo por terra, tudo que diz respeito ao que é produto da
compartilhada estrutura social condicionada, também está caindo por terra.
F: Pode ser isso mesmo... A
ignorância quanto a estrutura inquieta como a exata natureza de tudo, me parece
ser o ponto.
O: Percebido o ponto, o conteúdo
do mesmo não é mais levado a sério.
F: A própria estrutura faz de
tudo para ignorar o fato dela ser a causadora de todo tipo de confusão, seja
ela pessoal ou interpessoal. O que se imagina, nunca é o que é. Esse é um ponto
que já se mostrou factual para mim.
O: Fica então, inevitavelmente, é
um grande vácuo de ação.
F: Isso. O conteúdo projetado
pelo fluxo já não importa mais. É como assistir filmes com roteiros diferentes,
mas que todos terminam da mesma forma. Você não precisa mais nem prestar
atenção, uma vez que já conhece o final. O que quero dizer com isso, é que não
há esforço nesse desinteresse quanto as projeções do fluxo.
O: Visto isso, não há mais o mínimo
interesse de ver os filmes, as projeções.
F: Exato. Todo trailer, todo
filme perdem o sentido. De fato, nunca houve qualquer sentido nisso.
O: Mas ainda não se apresentou um
novo enredo de ação; as células cerebrais se alimentaram por décadas do velho
enredo.
F: Enredos de reclamações, chorumelas,
dramas, problemas, etc., etc., etc. Nada mais que projeções mecânicas e não
solicitadas, só filmes. Décadas de enredo e de envolvimento emotivo reativo com
tudo isso, sem a menor percepção, sem o menor questionamento quanto ao seu
mecanismo. Esse foi a exata natureza de nosso sofrimento por tanto tempo.
O: Não surge outro enredo, e o
que surge, é visto como parte do mesmo enredo compartilhado.
F: Nunca foram as questões
exteriores, nunca foi o comportamento alheio, muito menos, aquelas circunstâncias
camufladas de “interiores”, tipo: depressão, angústia, ansiedade, solidão,
etc., etc., etc. Quando, pela observação passiva não reativa, identificamos esse
mecanismo de funcionamento, acabou! Corta o poder ilusório de identificação. E
nem se trata de uma calculada ação pessoal... Digamos assim, nem somos nós que
fazemos, isso ocorre por si. Não há um “fazedor”.
O: Sim, isso ocorre por si, e sem
a menor possibilidade de retorno.
F: Não há uma entidade fazedora,
não há aquele que faz, como anteriormente imaginávamos. Pode ser aí que então
houve a confusão com a criação de um Poder Superior
O: Sim, um fazedor celeste, um
fazedor divino.
F: Exato. Sem essa coisa de “Pai
Divino”, “Eu Maior” para quem temos que orar e rogar. Nada daquela ilusória
concepção de um Deus da sua concepção.
O: Sim, nada, nada, nada disso!
F: Percebe o golpe aplicado pela estrutura?
Uma mente confusa formulando sua própria concepção de Deus...
O: Algo, talvez, celular, bioquímico?
F: Sim. Algo ali, já faz o serviço
da própria observação, sem esforço de nossa parte. Algo já roda por si.
O: Não importa! Não tem como
conjecturar. O que importa é que está ocorrendo uma significativa mutação no
poder de percepção, de modo impessoal.
F: Bingo! Sim, não dá! Mas você
concorda que algo roda por si? Certo?
O: Uma mutação que não aponta para
um ponto de chegada pré-estabelecido.
F: Não estamos mais lamentando,
quando dizemos que uma percepção precisa ocorrer. Não se trata do antigo e
neurótico chororô, nada de mimimi.
O: Ou da velha esperança dos sistemas
de crença organizada.
F: Olha, vou te dizer, sinto que
estamos fazendo uma narrativa do processo.
O: Uma sóbria constatação da
necessidade de um nível mais radical de percepção.
F: Isso está cada vez mais óbvio.
O: Não se trata de misticismo,
esoterismo ou ranço dos sistemas de crença.
F: Tudo isso já foi percebido
como balela. Nada de Planeta Aurora, de Deus do sol, ou outras crendices com
bases em mensagens canalizadas.
O: Nada de abertura final dos chacras
ou de um terceiro olho.
F: Nada disso se fez verdadeiro.
O: Só a capacidade de percepção
não condicionada a algo além de si, e nem mesmo por si, nem pelo conteúdo do
passado.
F: A observação vai fazendo
aquilo que, de modo algum, conseguíamos fazer por nossos próprios e limitados
esforços.
O: Mas a própria observação, ainda
está em relação aos fragmentos.
F: Sim, mas é o que temos para
agora. Chega-se num ponto em que tudo que experimentamos está consumado. Se
algo que ocorrer na percepção, a mesma pode mudar demais. Nossa experiência é
prova disso. É como dizia o poeta: “Esse caminho que eu mesmo escolhi, é tão
fácil seguir, por não ter onde ir”.
O: faz todo sentido! Os poetas
apontam, mas, quem tem olhos de ver?
F: Isso, tem olhos e não vê. Todo lance é que o cabeção vai aquietando após o quebra ondas, após a noite escura da projeção... Aí você tem uma observação mais apurada da estrutura. Antes disso, não tem como. Duro chegar aqui!
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