F: Bom dia Out! Percebo aqui que a
percepção da confusão do imaginal, ela própria muda a confusão dela. Aqui surge muito a sensação de que não somos
mais nós que estamos fazendo algo. O imaginal sensorial, incluo o sensorial, a
estrutura toda é biruta, dual, confusa, e nada nada do que vem dali pode ser
levado a sério, nada. A própria ideia de real que passa pelo crivo do imaginal,
é mais um truque dele. Veja, mesmo tendo vivenciado, mesmo experienciado um
vislumbre do estado incondicionado de ser, o imaginal pegou a ideia de real,
criando uma imagem daquilo, e agora usa aquela imagem como meta, como fim.
Assim, se isso não é percebido, o imaginal ganha um meio de perpetuar a
confusão, jugando sempre a ideia de real, colocando a ideia de que nada é real,
e que só aquela imagem que ele tem é real. Não estou dizendo da experiencia em
si, apenas do que a estrutura é capaz de fazer para manutenção da sua ilusão e
confusão; estou apenas pegando o conceito de real que ela usou agora como isca;
não estou questionando a experiencia, a leveza, a paz e sim o fato de que o
imaginal confuso está pregando um truque até mesmo com a ideia de real. Só
isso! Isso muda tudo, porque é sutil perseguir uma ideia agora camuflada de
real. Estou dizendo o que vi aqui ontem meditando... um looping, só mudou a
fantasia, então nada é real, só aquele estado, só que o imaginal pegou,
sagaz... Veja que não estou questionando o estado, existe mesmo o estado, mas a
sutileza, como tudo serve para criar mais uma ilusão. Estava vendo isso, e isso
aumenta demais a insatisfação. Mas o mesmo imaginal está também socando a bota
nessa insatisfação, detonando na inquietude, sendo que não há nada o que fazer,
a não ser perceber o enredo do imaginal.
O: Bom dia! Ele cria a
insatisfação, mas não dá a resposta libertária.
F: Todo santo dia, logo cedo, o
imaginal entra com as mesmas perguntas do tipo: o que é a vida? Ficar ou não
ficar na relação e no emprego? Será que a vida é só isso? Mas, no fundo ele tem
a ideia daquele experiencia, daquele estado de paz, de leveza. Veja, seu
emprego não faz sentido para você, assim como o meu não faz para mim. Independente
de como enxergamos, a percepção ainda está embaçada, não vamos mudá-la vendo as
coisas do exterior, tentando enxergar as coisas melhor e tal, blá-blá-blá, pois
é tudo viagem, tudo enredo do imaginal! O que pode mudar é ver a confusão que é
a estrutura mental e emocional, confusão essa que sempre pensamos que fossemos
e que continua, só que agora está sendo vista. Mas a mudança não é feita por
nós, nunca resolvemos isso, pois, quando tentamos resolver “A”, ele cria
problema no “B”. É sempre ele, o tempo todo é ele.
O: Isso.
F: Há essa percepção, que se
mostra cada vez mais instantânea, só isso.
O: No imaginal, só criamos
looping de confusões.
F: Nós nunca resolvemos a confusão,
nunca. Pode perceber, por mais que tentamos, toda manhã o fluxo mecânico e não
solicitado está aí. A única coisa que há, é a percepção desses fatos; a coisa é
confusa, o “eu”, a mente adquirida, não arruma isso. Isso está sendo visto sem
esforço algum; os loopings diferentes, são apenas as roupagens distintas da
mesma estrutura condicionada: trabalho, relacionamento, a vida não pode ser só
isso ou a descoberta do Real... Pode observar: basta você aguardar alguns
momentos e logo se apresenta um novo looping pessoal. Mas vamos dizer que mesmo
isso venha com uma imagem, porque entrei nisso ontem, te juro! Minha mente
trazia a porra da imagem das experiencias passadas... O imaginal diabólico faz
isso! Ele vem com todo tipo de imagens, ele já fez isso e, não adianta nem
querer mudar isso! Estou dizendo que a estrutura condicionada do imaginal pega
tudo para ampliar seu conteúdo. No entanto, tal estrutura nunca fica
esclarecida, pode ver, nunca! Fico só vendo isso sem que a identificação ocorra.
Só isso! Percebo que qualquer coisa mancha tudo! Não estou entrando naquele
looping do que “deve ou não ocorrer”, mas só quero ver como a estrutura pode
pegar qualquer coisa para fazer com que ela tenha esperança. Penso que não temos
que fazer nada, mas mesmo isso já é um fazer.
O: Outro jogo do imaginal.
F: Eu sei, mas sinto que não
consigo comunicar, ela sempre me dá um xeque... mas veja que é um talvez... A
estrutura é confusa, e isso é tudo! É como que um limite que causa enorme perda
de energia. Esse fluxo confuso é o que tem; para mim, é isso! Impotência de
perceber que não posso fazer nada, algo muito semelhante a dependência
química... Mesma coisa... Game over, quase que um abandonar navio, não tem real
relação com nada... Igual droga... E mesmo não tendo para onde correr, ela diz
assim: Vai para onde? Não tem mais nenhum lugar para ir, é uma abandonar da
estrutura, pois não tem saída por meio dela. Sendo o mais sincero, é isso que
está rolando aqui, há um estado do tipo: “você tem que parar”, compreende? Isso
é o que está ocorrendo, só isso. Na real, nada está rolando a não ser no fluxo
do imaginal. Sinto que a minha mente está me dando um tremendo xeque-mate; ela
diz que é igual o movimento para parar de usar droga, e ficar falando da droga...
que momento entrou aqui!
O: O que temos é o poder de
observar o looping de tentativas de enredamento do imaginal; esse observar nos
imuniza do enredamento, digamos assim, só o momento acontecendo e sendo
observado sem escolha, pois não tem como confiar no que vem das controversas oscilações
do imaginal condicionado. Por elas não terem um fuso, é que ocorre a confusão. Os
cristãos dizem: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. O que é a
verdade? Penso ser algo que não pode sofrer condicionamento. Então, tudo indica
que só o conhecimento do estado de percepção incondicionada, é que pode nos
libertar do fluxo controverso de oscilações do imaginal. Isso é o que sinto. Nossa
percepção está condicionada, sempre influenciada por uma forma de cálculo
autocentrado, por um conceito adquirido, por uma ideia tida por real.
F: Hoje aqui ocorreu um estado
estranho... Não tem bom ou ruim no que sinto aqui, só uma estafa... Vamos
aguardar.
O: Isso ocorre, mas já já ocorre a
oscilação. Já tive essas ondas de estafa mil vezes nesses anos.
F: Sim, já ocorreu.
O: O que percebo é uma capacidade
cada vez mais instantânea de observar e dissolver o enredo dramático do
imaginal, sem que se faça nada para dissolvê-lo. Tudo ocorre pela observação.
Até passa a onda psicossomática, a qual ocorre mais como sudorese fria na
testa, e logo vem aquele bem estar centrante, e volta com outro looping... Mas
não há realidade em nada disso, pois tudo só ocorre no imaginal-sensorial; é
ele que reage aos acontecimentos, reagindo conforme as imagens das experiências
anteriores, portanto, as reações não passam de condicionamentos. Estamos vendo
inclusive os condicionamentos reacionários, como por exemplo: a intolerância. É
notório que a comunhão fica difícil porque, em nossas relações, estamos todos
sendo movidos pelo fluxo de imagens reativas e separatistas, essas imagens
criam os cálculos autocentrados que cristalizam ainda mais as imagens. As
imagens e cálculos ocorrem como reação a tudo. Um exemplo: você vê uma bela mulher
e a mente condicionada logo traz a imagem e o desejo pelo sexo, bem como o
cálculo de como consegui-lo. Ela vê um carro possante e ocorre o mesmo
movimento calculista. Um fator claro disso é a propaganda, a qual é feita por
imagens bem calculadas pelo marketing para aguçar sua reação. Fica claro que
imagem e cálculo caminham juntos e o cálculo leva para escolha, por isso a
observação precisa ser sem escolha, sem cálculo autocentrado. No entanto, a
imagem e o cálculo estão sempre adulterando a observação, ou fragmentando-a,
impedindo que seja plena a observação do que é como é.
F: Dane-se a comunhão, o Amor e a
lucidez, pois tudo isso são conceitos que partem do imaginal condicionado. Não
dá nem para falar disso, porque tudo está contaminado pelas imagens feitas
sobre conceitos. A observação é de que a estrutura é confusa e dual, e
praticamente tudo o resto, são nuances confusas.
O: Você imagina que não tem
comunhão? Imagina que não tem amor? Imagina que não tem lucidez? Tudo isso é
imaginal para você? Aqui não tem nada de imaginal nisso, trata-se de um fato
facilmente observável.
F: Não é isso... Não sei nem o
que é nem o que não é comunhão, amor e lucidez... Não consigo explicar!
O: A coisa é simples, não tem xuru
melas. Apenas responda: você se sente conectado a algo? Tem real afeto impessoal
por algo? Alguém está conectado com você, de fato? Alguém tem real afeto por você,
de fato? Não tem por que os imaginais não deixam, apenas simulam!
F: Não é isso, estou falando
assim: Se some um item aqui de casa, eu sei que sumiu, mas de resto, eu não sei.
Não sei explicar.
O: O imaginal cria a imagem do
que deve ser um estado de liberdade, de comunhão, de conexão, olha ao seu redor
e não sente nada, nem mesmo o que ele imagina ser isso. Numa observação mais
apurada, fácil ver que vivemos um oco em relação a tudo.
F: É bem por aí! Quero falar algo
assim!
O: Não sentimos nada diante de
tudo, só sentimos quando somos negativamente cutucados por algo!
F: Agora você foi na mosca!
O: E o que mais sentimos é da
qualidade da intolerância, da raiva, da impaciência, do preconceito, daquilo
que convencionaram como “defeitos de caráter”. Não sabemos o que é empatia real,
o que é compaixão, o que é amor, não sabemos. Só temos imagens criadas em cima
do que escutamos; sabemos o que é medo, o que é ansiedade, o que é compulsão, o
que é inveja, ciúme, orgulho, desconfiança, e por aí vai... a inquietude parte
da intolerância crônica. Penso que quando começamos a tolerar a inquietude,
tudo que vem do imaginal condicionado, começa a desmoronar, visto que estamos
tolerando o imaginal, assim como o sensorial; por isso está se tornando cada
vez mais fácil tolerar o meio, o qual vive identificado com o imaginal coletivo.
Tudo é sempre movido pelo imaginal, todos estão reagindo a ele, e o imaginal é
formado de limitados e fragmentados conceitos e experiências incompletas. Penso
que enquanto o imaginal não colapsar, parece que não tem saída; perceba que você
já teve um "quase colapso", e veja como a capacidade de percepção
aumentou com esse quase colapso. Dizem que só o amor constrói... e eu digo que
o imaginal destrói, e esse parece ser o lance que a maioria dos homens lúcidos
tentaram apontar. Mas enquanto há o imaginal correndo solto, não tem como
sabermos se essa coisa chamada amor é real.
F: Concordo! Pode ser isso!
O: Observe se você via o que hoje
vê, antes do quase colapso...
F: Não via, concordo. Mudou a
capacidade de percepção.
O: é um fato. O quase colapso da
estrutura, alterou o poder de percepção, produziu uma significativa mutação. Quebrou
a sequência antiga, uma nova sequência entrou.
F: Sim, percebo isso.
O: E é perceptível que todo dia estamos
vivendo colapsos e colapsos... e que a percepção tem aumentado diariamente,
assim como a facilidade de não reagir, a facilidade de estar com as passantes oscilações
de conflito, sendo que antes do quase colapso da estrutura, nada disso existia.
Isso é facilmente percebido.
F: Mais coerente isso.
O: Se há lógica nisso, então é
também lógico que um colapso maior da estrutura, amplia também a capacidade de
percepção da realidade. Vejo que temos, diariamente, fragmentos de colapsos...
É paradoxal, mas, hoje há situações internas caóticas que são vistas dentro de
um equilíbrio que não existia antes. Você percebe ondas de pensamentos que
anteriormente produziam pânico e que hoje são vistas apenas como produtos do
imaginal. Não há como negar que estamos perdendo o medo do medo, porque
entendemos que o medo é identificação com o conteúdo do imaginal. Pegamos isso,
e esse pegar instantâneo, está nos imunizando da adulterante identificação
ilusória. E aí temos sintomas de abstinência da antiga reação ao medo. O medo
era uma droga, a identificação inconsciente e reativa do imaginal era uma droga;
estamos nos abstendo, mas os sintomas de retirada dessa abstenção ainda ocorrem.
Antes você não via as imagens, e elas lhe governavam. Agora você as vê e não
deixa que elas lhe governem e a estrutura se ressente desse não mais se deixar
levar pelas imagens.
F: Sim, faz sentido, mais isso do
que imaginar o que seja o amor, a lucidez, etc. e tal.
O: Você parece ter encarnado com essas
palavras, do mesmo modo que encarnava com a palavra Deus.
F: Não é isso. Calma. Só sei o
que li sobre amor, certo?
O: Não estou imaginando o que é
amor; só constato que não tenho sentimentos sólidos e significativos. Nada sei
dele, não tenho sentimentos que naturalmente aproximam, que criam contatos
profundos, significativos. Se olhar bem, tem sempre um cálculo autocentrado por
trás. O viver, portanto, é visto sem significação real. A significação
imaginária não serve em nada.
F: Sem significância.
O: Significação imaginária é
condicionamento. Tem que ocorrer uma percepção sem imagem, uma percepção livre
do fluxo, livre de qualquer "tem que", livre de qualquer conceito de
bem ou mal, de certo ou errado, do conceito de defeito ou de virtude. Nada do
que possa ser imaginado como sendo necessário.
F: Exato. A entrada no que deve
ou não, tem ou não, não funciona mais, pois é visto como mais um condicionamento,
sujeira colhidas de inquestionadas doações de fora. O estrangulamento da
estrutura me parece vir do contrário. Parece ser isso: ficando mais e mais
nesse ponto, o qual é muito difícil de se comunicar.
O: isso é o mesmo que dizer que colapsou
também a imaginação do que é necessário, vivemos um completo “não sei”.
F: Quando se chega nisso, vive-se
uma tremenda estafa, um colapso ao avesso.
O: As imagens mais absurdas, que
anteriormente, com certeza, chegavam a nos paralisar, são vistas de imediato, sem
qualquer reação de recusa, ou de aceitação. Dias há trás, você trouxe uma
palavra-chave para nosso linguajar, a palavra "dramaturgia". A dramaturgia
assistida do fluxo do imaginal, não cria mais identificação com o personagem.
F: Mas é dramaturgia pura,
formada por trailers dramáticos, caóticos...
O: Agora somos um expectador de
uma dramaturgia, para a qual não compramos bilhete, onde nem aplaudimos, nem
vaiamos mais, apenas observamos de modo passivo e não reativo. Nem sequer
opinamos quanto ao enredo.
F: Tem o trailer rolando como antes,
mas não tem mais as identificações reativas de antes.
O: Só compartilhamos o que
estamos percebendo desse mecanismo dramaturgo, não reagimos mais aos trailers, e
a peça não desenrola mais. Esse teatro está em eminência de falência.
F: Não acredito mais, nem que somos
de fato, o personagem que pensávamos ser, pelo fato do filme rolar sem esforço,
é um fluxo mecânico e não solicitado, assim como o próprio ato de observar esse
fluxo, sem identificação como antes.
O: Crença ou descrença também não
nos interessa mais. O que interessa são os fatos que podem ser observados e
comprovados em mais de um indivíduo, fora disso, é o imaginal em ação, sempre
produzindo identificação ilusória. A maioria dos trailers são quase sempre,
feito de dramaturgia apavorante, dramaturgia do caos. No entanto, é bem louco
ver como se desmonta de imediato quando essa dramaturgia é percebida. O que
cansa é que o looping dos enredos se mostra muito rápidos, mal sai de um, já
tem outro entrando... flui em banda 10G, o que penso ser as últimas tentativas
do imaginal que se percebe cada vez mais sufocado.
F: Tudo muda com muita rapidez.
O: Todos os enredos possuem o
mesmo fundo: “tenha medo de mim, tenha medo de mim, tenha medo de mim”... “Quem
é você sem eu?”
F: Faz sentido!
O: Todo filme é assistido de
imediato, mesmo os filmes em que você aparece falando para os demais sobre como
superou de vez o imaginal, os filmes em que você está livre, esclarecido,
integrado, repleto de energia amorosa e criativa. Nada mais passa batido e tudo
é visto como mais e mais folhas de enredo do imaginal; os filmes em que você
não aguenta mais e opta por uma forma de suicídio, tudo isso é visto no ato, tudo
é identificado no ato e não tem o poder de criar o antigo pânico que fazia você
sair correndo, feito um neurótico, atrás de incertas certezas emprestadas,
provenientes de mentes igualmente confusas, em inconsciente processo de
cristalização de seus condicionamentos. Até mesmo o pensamento que julga o
quanto somos doentes por pensar tudo isso, os flashes que sugerem que você está
enlouquecendo, de que se continuar a pensar tanto, acabará com Alzheimer ou
coisa do tipo, são visto de imediato, sem causar qualquer identificação
ilusória.
F: Sim.
O: Tudo é pego, mas é tudo bem
acelerado, parece que cada vez mais.
F: Acelerado demais, absurdamente
acelerado.
O: Mas veja, independente da força
de aceleração, estamos acompanhando instantaneamente, fato que não ocorria
antes. Então, veja, antes, pensávamos que nós estávamos colapsando mas, agora, sentimos
que é a estrutura que está colapsando. Somos silenciosos espectadores desse colapso,
consegue perceber isso? Porque antes pensávamos que éramos esse fluxo mecânico
do imaginal, mas agora, vemos esse fluxo, e percebemos sua agonia.
F: Porque não podemos dizer que
tudo está colapsando, sem levantar a ideia de que não estou e a estrutura está?
O: Só se você está lidando com
ideias, o que não é o meu caso.
F: Penso que tudo na estrutura,
tudo, tudo, é só confusão. Não estou lidando com ideias, nem a pau!
O: Observe e depois me diga... caso
contrário, vai ficar preso no looping do pensamento, em meio de sua natural confusão.
F: Não estou pensando.
O: Algo em mim está colapsando,
mas algo em mim, que não está colapsando, é que está consciente desse processo
de colapso passivamente assistido.
F: Sinto isso aqui. Sinto o
colapso, trata-se de uma realidade do momento.
O: Se tudo estivesse colapsando, então,
a observação estaria também colapsando ao invés de estar se ampliando cada vez
mais. Sua observação está colapsando?
F: Não.
O: Então, como pode ser tudo?
F: Não é isso. Já explico melhor.
O: Há uma consciência aí que nunca
colapsou, que sempre esteve presente nos momentos anteriores de colapso, consciente
do processo de colapso, impedindo uma reação fatal. Isso para mim está muito
claro. O que sou não pode ser esses absurdos pensamentos desconexos e sem
sentido algum de realidade, que passam na tela mental, sem escolha de minha
parte. O que sou é isso que observa esses absurdos pensamentos desconexos e sem
sentido algum de realidade, e que não mais se identifica com os mesmos. O
imaginal funciona por si e traz todo tipo de trailer sem fundamento, trailers
que tentam alimentar a preocupação excessiva com o próprio bem-estar. Parece
que isso que cria esses trailers é que está entrando em colapso; algo aqui está
cada vez mais consciente e mais centrado, independente da somatização. Quando você
olha para o conteúdo dos trailers, percebe sua demência estrutural; quando olha
os trailers de cobrança com base nos comportamentos socialmente aceitáveis, vê
o quanto não fazem mais sentido algum para você, não exercem mais poder de
controle sobre você. O fluxo do imaginal condicionado saltita para todo lado, para
toda forma, reagindo a todo acontecimento, a toda percepção, tudo de forma
muito rápida, mas não está mais passando batido, o que faz com que o imaginal
use até mesmo essa percepção para criar identificação julgadora, medindo e
dizendo que estamos mais doentes do que antes. No entanto, não é nada disso. Antes
da observação passiva não reativa se tornar um estado natural de ser, muito do
fluxo passava batido, dando espaço para as adulterante e ilusórias reações
inconscientes e inconsequentes. Agora, todo jogo de quero e não quero é
percebido; até mesmo o impulso para querer compreender a estrutura, bem como o
cansaço de tentar compreender a estrutura, é percebido e não cria raízes, veja
que mesmo o cansaço, não fica, ele tenta se instalar, mas é percebido e dissolve
por si só.
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