O: Cara, o conteúdo dessas conversas
está muito forte. Quem estiver aberto ao que está sendo lido, a coisa entra,
sem volta... mais liso que vaselina. Quebra tudo. Só se ainda estiver muito
iludido, muito na negação. Quem questionou o resultado de seu buscar, ao se
deparar com isso, joga tudo por terra. Não tem como. Só se for um delirante
saltitante.
F: Duro de ler, quem chega nisso é porque está
fudido.
O: Não vejo assim; para mim, isso
aqui é benção.
F: Não nesse sentido. Digo no
sentido que se tiver negação, a mesma será também arrancada. Mas, veja, tem
quem não quer.
O: Se não quer... Ah!, esse nem lê
isso. Para esse, o acaso vai lhe proteger enquanto ele andar distraído quanto ao
seu imaginal.
F: A maioria não lê, pois não consegue.
Trata-se de algo muito profundo e que produz uma enorme mudança de paradigma.
O: Por isso nomeamos isso de “Paradigma
Holotrópico”, visto que isso afeta todos os trópicos do ser que somos. Sem
retorno depois de instalada a observação passiva não reativa.
F: Mudou tudo aqui, mas, quando
cheguei, não estava nisso. Mais do que claro que uma vez instala a observação,
não tem retorno. Aleluia irmão!
O: mas há quem já me amaldiçoou. E
olha que não foram poucos... Como se eu tivesse culpa pela curiosidade do
indivíduo.
F: Oloko! Quem chegou nisso e não
viu, não viu o movimento como um todo. Só a estrutura. Fica lá no muro das
lamentações.
O: Como se isso mudasse alguma
coisa.
F: Se ele ver isso, o que muda é
a forma de lidar com a reação.
O: Isso fez toda a diferença em
minha vida. Nada do que passei permitiu tal percepção de si mesmo. Mas não sei
ao certo se, sem o que vivi anteriormente, teria condições de assimilar isso. Tiro
isso pela experiência da minha recusa inicial em aceitar os dizeres de
Krishnamurti. Só depois de quase um anos após o primeiro contato, o qual foi
fortemente combatido, é que aceitei o que li em um de seus textos, sem a
possibilidade de contestar uma linha sequer. Hoje, por meio disto, estou livre
até de Krishnamurti, o qual, pelo que tenho visto, para muitos, acaba se
tornando uma das maiores drogas, quase que impossível de ser abandonada.
F: Também não me sinto mais preso.
Percebo claramente o simples mecanismo que nos mantém preso a qualquer “droga”.
Eu diria que Krishnamurti é perigoso, uma vez que ele rouba a vida do cara que
não conseguir largá-lo. Krishnamurti entra, debulha, se infiltra e, se o cara
não largá-lo, ele está frito, porque é pior que o Advaita. Este último deixa
brecha pra você ver que não sente aquilo que ele se propõe. Já o Krishnamurti
pega sua cabeça e lhe conduz sem fim; tão lógico tudo dele que se leva, quando
você pensa que está vendo algo, você está lendo algo, pensando que está vendo...
Isso é cruel! Eu cheguei nessa sacada logo no segundo livro dele, aquele sobre
a eliminação do tempo psicológico. Rodei muitos vídeos dele também. Hoje é um
alívio, pois a observação matou o buscador. O fato de tirar a identificação com
as reações, permite vivermos com pouco mais de calmaria, tudo aquilo que se
apresenta na base inquieta, ou seja, com menos interferência, prestando muito mais
atenção ao que rola de fato.
O: Confirmo tudo isso que você
disse, pois vejo do mesmo modo.
F: Estamos vivendo isso.
O: sim, não se trata de achismo,
de modo algum. Não tem mais como brincar de ser feliz, de ser espiritualizado,
de ser altamente lúcido. Isso amplia a emergência, a necessidade de seriedade.
F: Cortou o imaginal de questão,
mesmo ele lançando projeções, a observação o cortou, acabando com a segurança
ilusória que havia nas formulações do imaginal.
O: sim, mesmo as perguntas, agora
são percebidas como partes integrantes desse mesmo imaginal condicionado,
inquieto.
F: Quebrou.
O: a própria ânsia de busca é
percebida como algo que se imagina ser necessário para a solução final da inquietude,
portanto, parte do imaginal, alimento para o imaginal.
F: Isso amplia o mal-estar. Há
uma trava no próprio mecanismo. Não permite entrar aí pelo amplificar do
mal-estar. A inquietude começa a aumentar, sistema todo se liga... Opa... Não
tem como, cara! Estamos pegos. Não deixa mais você pensar como antes, estrangulou
pelo mal-estar. Você fica entre a cruz e a espada: ou fica com a base de mal-estar
original ou se dá a amplificação dessa base. Estamos presos, cara! Pode ver,
isso que é a crucificação.
O: Sem dúvida, toda punhetagem
mental é percebida sem qualquer sentido de ser.
F: Acabou, pois a observação não
deixa, não permite espaço para isso. Ela permite você sentir a inquietude mas
não permite você punhetar sobre a inquietude. A observação não deixa, pode ver.
Não rola. Veja, não entra. Há um mecanismo como que lhe sugando para sentir a
própria inquietude. São poucos os que verão isso.
O: Sem dúvida; isso porque é difícil
demais de ficar com a base de inquietude.
F: Sim, isso é a coisa mais
difícil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário