26/05/2021

Sobre o avançado platô de percepção da realidade – Parte 5

O: Cara, o conteúdo dessas conversas está muito forte. Quem estiver aberto ao que está sendo lido, a coisa entra, sem volta... mais liso que vaselina. Quebra tudo. Só se ainda estiver muito iludido, muito na negação. Quem questionou o resultado de seu buscar, ao se deparar com isso, joga tudo por terra. Não tem como. Só se for um delirante saltitante.

F: Duro de ler, quem chega nisso é porque está fudido.

O: Não vejo assim; para mim, isso aqui é benção.

F: Não nesse sentido. Digo no sentido que se tiver negação, a mesma será também arrancada. Mas, veja, tem quem não quer.

O: Se não quer... Ah!, esse nem lê isso. Para esse, o acaso vai lhe proteger enquanto ele andar distraído quanto ao seu imaginal.

F: A maioria não lê, pois não consegue. Trata-se de algo muito profundo e que produz uma enorme mudança de paradigma.

O: Por isso nomeamos isso de “Paradigma Holotrópico”, visto que isso afeta todos os trópicos do ser que somos. Sem retorno depois de instalada a observação passiva não reativa.

F: Mudou tudo aqui, mas, quando cheguei, não estava nisso. Mais do que claro que uma vez instala a observação, não tem retorno. Aleluia irmão!

O: mas há quem já me amaldiçoou. E olha que não foram poucos... Como se eu tivesse culpa pela curiosidade do indivíduo.

F: Oloko! Quem chegou nisso e não viu, não viu o movimento como um todo. Só a estrutura. Fica lá no muro das lamentações.

O: Como se isso mudasse alguma coisa.

F: Se ele ver isso, o que muda é a forma de lidar com a reação.

O: Isso fez toda a diferença em minha vida. Nada do que passei permitiu tal percepção de si mesmo. Mas não sei ao certo se, sem o que vivi anteriormente, teria condições de assimilar isso. Tiro isso pela experiência da minha recusa inicial em aceitar os dizeres de Krishnamurti. Só depois de quase um anos após o primeiro contato, o qual foi fortemente combatido, é que aceitei o que li em um de seus textos, sem a possibilidade de contestar uma linha sequer. Hoje, por meio disto, estou livre até de Krishnamurti, o qual, pelo que tenho visto, para muitos, acaba se tornando uma das maiores drogas, quase que impossível de ser abandonada.

F: Também não me sinto mais preso. Percebo claramente o simples mecanismo que nos mantém preso a qualquer “droga”. Eu diria que Krishnamurti é perigoso, uma vez que ele rouba a vida do cara que não conseguir largá-lo. Krishnamurti entra, debulha, se infiltra e, se o cara não largá-lo, ele está frito, porque é pior que o Advaita. Este último deixa brecha pra você ver que não sente aquilo que ele se propõe. Já o Krishnamurti pega sua cabeça e lhe conduz sem fim; tão lógico tudo dele que se leva, quando você pensa que está vendo algo, você está lendo algo, pensando que está vendo... Isso é cruel! Eu cheguei nessa sacada logo no segundo livro dele, aquele sobre a eliminação do tempo psicológico. Rodei muitos vídeos dele também. Hoje é um alívio, pois a observação matou o buscador. O fato de tirar a identificação com as reações, permite vivermos com pouco mais de calmaria, tudo aquilo que se apresenta na base inquieta, ou seja, com menos interferência, prestando muito mais atenção ao que rola de fato.

O: Confirmo tudo isso que você disse, pois vejo do mesmo modo.

F: Estamos vivendo isso.

O: sim, não se trata de achismo, de modo algum. Não tem mais como brincar de ser feliz, de ser espiritualizado, de ser altamente lúcido. Isso amplia a emergência, a necessidade de seriedade.

F: Cortou o imaginal de questão, mesmo ele lançando projeções, a observação o cortou, acabando com a segurança ilusória que havia nas formulações do imaginal.

O: sim, mesmo as perguntas, agora são percebidas como partes integrantes desse mesmo imaginal condicionado, inquieto.

F: Quebrou.

O: a própria ânsia de busca é percebida como algo que se imagina ser necessário para a solução final da inquietude, portanto, parte do imaginal, alimento para o imaginal.

F: Isso amplia o mal-estar. Há uma trava no próprio mecanismo. Não permite entrar aí pelo amplificar do mal-estar. A inquietude começa a aumentar, sistema todo se liga... Opa... Não tem como, cara! Estamos pegos. Não deixa mais você pensar como antes, estrangulou pelo mal-estar. Você fica entre a cruz e a espada: ou fica com a base de mal-estar original ou se dá a amplificação dessa base. Estamos presos, cara! Pode ver, isso que é a crucificação.

O: Sem dúvida, toda punhetagem mental é percebida sem qualquer sentido de ser.

F: Acabou, pois a observação não deixa, não permite espaço para isso. Ela permite você sentir a inquietude mas não permite você punhetar sobre a inquietude. A observação não deixa, pode ver. Não rola. Veja, não entra. Há um mecanismo como que lhe sugando para sentir a própria inquietude. São poucos os que verão isso.

O: Sem dúvida; isso porque é difícil demais de ficar com a base de inquietude.

F: Sim, isso é a coisa mais difícil.

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