24/05/2021

Observando a base real do que somos

 

O: Cara, nada faz sentido, algo precisa ocorrer.

F: Não é só que não faz sentido: só sentimos merda.

O: Não faz sentido porque não faz sentir algo diferente do que sentimos.

F: Somos esse mal-estar.

O: Não faz sentido caminhar tanto para passar os dias vendo as oscilações da mente e das emoções; todo dia a mesma merda, e fudeu porque não tem mais o que fazer, porque não tem mais nada que atrai, nada. Não dá mais pra ficar correndo atrás de coisas bobas, tipo, comemorar o título de campeão... para mim, isso se mostra patético demais. Percebo que, como eu, ninguém sente porra nenhuma por ninguém, é só um teatro patético. Vimos isso, e agora? Tudo perdeu o sentido de ser feito... não que a gente não faça, mas sabe que não tem sentido. Não consigo ver nada que me movimente com sentido real de ser, e isso faz com que eu me sinta perdido, sem direção. O que tenho para fazer, não passa de uma obrigação que também não vejo real sentido de ser, pois nada do que faço me toca, e isso causa um terrível sentimento de ansiedade, por não saber o que fazer com o viver, que por vezes, parece que não estou cabendo dentro de mim. Isso é louco demais. Sinto-me preso numa rotina patética. Toda sugestão que vem na mente, de imediato é vista como sem sentido. Inevitavelmente se instala uma profunda ânsia por saber o que é o viver correto, um saber que finalmente coloque fim a essa base de inquietude que sempre esteve presente no viver. É patético me ver andando pelas ruas, sem sentido real, e tudo isso é percebido como produto da mente doente.

F: Todo dia, todo ano é tudo igual. Doença braba, escrota, e na velhice fica pior. Tem dia que é foda!

O: Sempre estive perdido, sem saber que estava perdido; agora sei, e nada parece ser mais saudável do que ser um completo ignorante de si mesmo. Total colapso assistido e parece que nunca vai ter fim. Não ter o que fazer é foda, amplia a inquietude.

F: Eu tenho e nada muda... Não tem saída! Pensamentos não dão trégua; sensações que sentimos são muitas vezes desagradáveis; raros momentos que a coisa fica neutra. Com os pensamentos, até que no momento eu já desencanei; mas as sensações... pkp! E o pior de tudo é essa rotina idiota. Fica claro que não nascemos para esse modo de viver, não nascemos! Ninguém tem culpa. Assista o filme “O Professor” com Jonny Deep. Esse filme detona essa debilidade toda, a idiotia total do sistema: casamentos, família, as falas montadas, mostra tudo isso que vemos. Deixa claro que o imaginal é o causador da primeira reação sensorial. É o imaginal que joga o primeiro dardo... Não há escolha nisso! Então, pega no sensorial. Não reagir ao sensorial me parece a sacada que veio aqui, porque o sensorial amplia o imaginal, lança mais dardos, sendo que nada real está rolando de fato, tudo é éter. Mas é louco, porque o sensorial reage, assim como também reage ao ambiente, ao meio externo. Não tem escapatória, xeque.

O: Não mesmo.

F: O corpo é assim, o organismo é isso, dá vontade de morrer a toda hora.

O: Vontade de desligar da base de inquietude.

F: Pega essa frase aí: “Vontade de morrer”... Ela gera uma puta carga sensorial aqui. Ela está rodando aqui já tem um mês e de forma violenta. Fudeu, cara! Porque o mecanismo do imaginal sensorial condicionado é isso. Os pensamentos estão condicionados nesse mecanismo repetitivo. O mecanismo é louco. A gente não atinge um nível mental profundo, mesmo tendo lido tudo o que lemos, parece que nossa mente fica nisso. Mesmo tendo tido amostras grátis daquele estado incondicionado, ficamos nisso, num nível baixo, doente, autodestrutivo, egocêntrico. Não tem saída, não há!

O: Estamos sós e nenhum de nós sabe exatamente onde vai parar.

F: Exato, boa! De tudo que você leu, de tudo que sentiu, de tudo que teve, são sempre os mesmos pensamentos egocêntricos, não saímos desse giro da preocupação excessiva consigo mesmo. O núcleo está aí... Traumas, medos, preocupações... O núcleo fica nisso e de nada adianta ler livro, ouvir áudio, ver vídeo de gurus... A base inquieta está aí, a mente nossa pequenina, presa em si. Ela está presa em si mesma e não sabe como escapar.

O: Fica nisso: ondas de sensações contraditórias que minam energia, produzindo esgotamento. Na verdade, tem dias que chego a ansiar por um esgotamento pleno, quem sabe, por meio dele, a estrutura colapsaria.

F: Mas esse desejo pelo esgotamento, não deixa de vir da estrutura... É só mais uma forma de pensamento. Fudeu, mano! Vemos tudo.

O: O desejo de ter o colapso também é um impulso emotivo reativo escapista, que parte do imaginal inquieto.

F: percebo claramente o pensamento camuflado na esperança "de quando tudo se ajeitar". A observação pega tudo, não adianta. A observação pega todas as artimanhas do imaginal sensorial, mas não as elimina. Então, podemos ver as coisas apesar do imaginal. Antes víamos só ele, era identificação total. Chega a ficar claro que o que tem, é o que tem agora.

O: Mesmo com essa visão, estamos presos na inquietude de sempre, na mesma incapacidade de conexão.

F: Sim, estamos... é o que é de fato. Ou ficamos com isso, ou caímos no looping de esperar a "boa nova". Esse é o xeque em que me encontro: uma estrutura construída com lógica circular falsa; é o imaginal quem derrama a primeira gota; não há o que fazer, pois a observação só pode ver, não pode sanar; não há nada além de uma sequência interminável de pensamentos que geram inquietantes sensações. Trata-se de uma bizarra piada cósmica.

O: O imaginal ao ver isso, lança outro looping: então, o que poderia sanar?

F: Estamos presos num vicioso círculo emocional. Aparentemente, é a pergunta que causa todo o problema, e a tentativa de encontrar a resposta, é mais idiota ainda, visto que ela parte da mesma estrutura. Não há fim, apenas uma sequência de interminável de pensamentos e sensações inquietantes, os quais surgem de modo não solicitado e injustificado. Ambos são reais na medida em que ocorrem, mas são basicamente éter. Alguns são totalmente falsos... Enfim, é isso! Parece que chegamos no núcleo da coisa e, mesmo assim, a estrutura não para. E quem foi que disse que para? Essa é uma pergunta que me faço. Quem foi que disse que essa estrutura pela qual funcionamos até aqui, colapsa? Independente de que se não, ocorrer estamos fudidos ou não... Mas veja as artimanhas dessa estrutura... Quem foi que disse?

O: O próprio imaginal com base no que leu.

F: Perfeito! Vejo o mesmo! A marca de quem leu muitos livros sobre o assunto, essa é a marca registrada. Essa observação passiva não reativa, quebrou tudo.

O: Mas veja, independente do que lemos, há uma intuição, usemos essa palavra, que indica que se o pensamento não cessar, não há saída, visto que ele é ciclicamente contraditório em si mesmo; ele lança uma ideia e logo outra que a contradiz.

F: Você tocou aqui, num ponto interessante... Intuição aqui é diferente. Parece que vejo mais sentido no sentir. Vejo o seguinte: a pensamentose aumenta muito quando não aceito o que se apresenta no sensorial inquieto. Não vejo sentido em mexer no imaginal, pois é ele quem lança a primeira facada. Mas a todo momento, sempre foi a tentativa de fuga desse sentir inquieto. Aqui sempre foi isso.

O: Não faz sentido mexer com nenhum dos dois, pois ambos lançam facadas.

F: Não consigo ficar com essa inquietude o tempo todo, pois enche o saco. Estou sendo sincero; não tem sentido. Se tiver que rolar algo, vai rolar. Sensorial também lança facada, e o imaginal vem com tudo, justificando ou tentando explicar esse sentir sempre inquieto. Veja, nem o sensorial, nem imaginal têm sentido. É isso que percebo. E quem disse que no fim desse sentimento teremos o tchammmmm? O bummmmmmmmmm? Essas ideias vêm todas dos livros e mais livros que lemos pra tentar fugir da sensação inquieta.

O: Se não esgotar o fluxo, continuamos nisso, isso me parece bastante óbvio.

F: Não sei... O que conta é que o fluxo de inquietude crônica está aqui e também aí. Então, o que temos é isso.

O: Por mais que lemos e praticamos, isso é o que permanece, é o que está aqui agora mesmo, causando mal-estar, confusão, incapacidade de viver bem. Isso é o que há. Fora disso, parece-me ser mais peças do imaginal, tentando com elas, solucionar a inquietude crônica do sensorial. Só imaginação desconexa brotando de instante em instante; se você se identifica, hipnotiza e sensoriza. Viu que identificou, retoma o centro.

F: Exato! Mas isso ainda ocorre, só que volta feito looping. Apesar do mecanismo ter sido visto, ainda roda por si, igual formigas, manada. É bizarro! Só que estamos vendo e saindo de um monte de ilusões, tais como a busca de sucesso, poder, prestígio, conquistas românticas e sexuais.

O: Sim, caiu um monte de ilusão, mas o fluxo de inquietude que alimentava a identificação com tais ilusões, ainda permanece.

F: Pergunto-me, porque? A noção de que o fluxo deve parar, também veio do imaginal condicionado por informações de terceiros.

O: Sim, colhemos ela, principalmente, do dizeres de Krishnamurti, do que lemos dele.

F: Veja, quando buscamos que o fluxo pare, é conflito dele com ele mesmo... em outras palavras, eu conflitando comigo mesmo. Então, não é só o fluxo que me detona, mas também a minha luta contra ele. Cara, isso é caso de psiquiatria! Seja bem-vindo! Você atingiu o estado de esquizofrenia sem saída. A estrutura se sustenta em delirantes pensamentos autocentrados. Ela pensa no relacionamento ou no trabalho e depois em si mesma. É uma estrutura doente, débil. E, o pior de tudo e que causa mais inquietação: mesmo vendo isso tudo, ela segue seu fluxo não solicitado. Claríssimo isso. A estrutura ficou presa num looping. Não sei o que é mais foda: ver isso ou não ver.

O: Toda sugestão do imaginal sempre parte do que ele viu, ouviu ou leu.

F: Sim, tudo, tudo é condicionamento. Talvez esse cérebro seja isso e estamos esperando algo dele que ele não é capaz de fazer. Não pode fazer nesse estado que conhecemos.

O: Permanecer nesse estado não tem lógica, visto que esse estado é sofrimento mais eu assistido.

F: Claro que não, nenhuma lógica! Muitas vezes dor mesmo! Chego num certo ponto aqui em que me pergunto: seria imaturidade nossa, esperar esse bem-estar eterno? Será que estamos esperando por algo que não existe?

O: Ausência de dor não é bem estar.

F: O que se mostra é o mal-estar da inquietude e o nosso desejo de sair disso, certo? Podemos dizer que não tem sentido lógico sentir isso, nem essa estrutura confusa. Sinceramente, vejo aqui uma puta confusão e que esse imaginal é incapaz de analisar qualquer coisa com clareza assertiva. Xeque, my friend, xeque-mate!

O: Por isso não conseguimos mudar nosso presente, porque o que surge do imaginal, só vem do passado... é o passado batendo em nossa porta feito alma penada. É mesmo de dar pena.

F: Não temos escolha, estamos presos no tempo, está escancarado, são só pensamentos... Veja, cada frase dessas é só mais um pensamento, só mais um jogo do imaginal, num looping interminável de conflitos assistidos. Cada frase é um pensamento, só isso! Até parecem se encaixar, mas não, continuam em desconexão, cada uma não link na próxima.

O: Então, fudeu tudo!

F: Cara, veja essa frase “Fudeu tudo”... É só outra frase. Você não vê isso? Claro que vê! Pegue o último looping aqui: “não tem saída”... Veja: xeque-mate! Pegamos a falência da estrutura, a incapacidade dela sair disso por si mesma, dela findar...

O: sua incapacidade de encontrar sentido, de saber o que é conexão, de saber como perceber a realidade sem a interferência de seu conteúdo que é produto de um passado condicionante.

F: Exato! Porque sentimos mal-estar, veja o quanto o imaginal adiciona imaginação sobre esse mal-estar. Um sentimento de mal-estar traz o imaginal com suas afirmações de falta de sentido nas relações e circunstâncias criadas, etc., etc. Mas, numa observação mais apurada, o ponto está no fato de sentirmos esse mal-estar crônico. O imaginal tentar responsabilizar as circunstâncias externas, mas, o fato, é o mal-estar crônico.

O: Sim, a base.

F: Isso, a base é o mal-estar; o resto é adicionado pelo conteúdo condicionado do imaginal, até mesmo as suas sugestões de soluções, tipo o que deve ser feito ou deixar de ser feito. Parece que chegamos no miolo, na base. O mal-estar está sempre em primeiro lugar, o nosso “mal-estar comum” vem em primeiro lugar. O bem-estar comum que é pregado nas salas de anônimos, de fato, não existe; trata-se de algo forçoso, não natural. Ali, assim como aqui, o que existe de fato é o mal-estar, certo? Já a ausência de mal-estar em raros momentos. Já tivemos breves amostras. Mas o que temos agora é o mal-estar, a sensação desconfortável, as sensações corporais básicas. Olhe isso, veja isso que que o processo de descondicionamento nos trouxe... sentimos sensações corporais básicas de desconforto, tipo aquele sufocante aperto no peito, a garganta travada, a boca seca, os derrames de ansiedade que provocam mijaneira e caganeira. Essa é a base.

O: A angústia, a ansiedade, a letargia, as várias formas de compulsões...

F: Sim, chame como quiser. Essa é a constituição da base, é isso! São raios da mesma base. Veja, diante disso, o imaginal traz todo tipo de ideia, tipo, a vida não tem sentido, um casamento sem amor não tem sentido, um serviço sem real vocação não tem sentido, etc., etc., etc. Só que, o que há de fato, é somente a crônica sensação de mal-estar. É o mal-estar crônico, a base, querendo responsabilizar circunstâncias externas.

O: Sim, sempre ela, trata-se da base falando.

F: Talvez, essa seja a sensação mais básica que já sentimos e que dela fugimos instintivamente, por meio da comida, da bebida, do sexo, dos filmes, por meio de alguma atividade, etc., só que não adianta, todo tipo de fuga não resolve. Mas, mesmo sabendo que a fuga não resolve, ainda assim, não ficamos com a crônica sensação de mal-estar, sempre fugimos de alguma forma. A coisa pula fora por si.

O: Vejo que mesmo querendo ficar, a letargia produzida pelo mal-estar não deixa, porque é terrivelmente inquieto, confuso, desconexo.

F: Não ficamos; o próprio corpo pula fora. Se não é na ação direta, a fuga se dá por meio de um looping de pensamentos desconexos. O corpo não aguenta e faz você se levantar, andar, sair para dar uma volta e logo a meia-volta quando o próprio pensamento diz que a volta não resolve... A coisa é débil: sai, vira, mexe, remexe, pensa, pensa, pensa, pensa, pensa, pensa...

O: Até cair no sono por esgotamento.

F: Veja, a observação desfiou o nervo central da estrutura, expos, descarnou, dissecou, deixando-a nua... Chegamos no ponto de ver o que é mesmo, do modo que é, e esse parece ser o limite que alcançamos. Parece, pode ser que tenha algo mais.

O: Sim, concordo, esse é o limite que alcançamos, mas tem que ter uma percepção superior, pois não faz sentido vir até aqui e ficar nisso.

F: Se tem, a gente não acessa. Mas não importa... Sentir-se bem, saber o que é um estado de bem-estar comum, isso é o que importa! Foda-se uma percepção maior da realidade, foda-se o condicionado impulso de querer ajudar a humanidade, foda-se tudo isso! O que importa é alcançar algo que produza paz, bem-estar.

O: Sim, paz interior, quietude!

F: Isso, perfeito! Algo que faça com que nos sintamos bem, um bem-estar que não é cálculo da mente. Pronto! Não temos isso! O que há, de fato, é o contrário: conflito, mal-estar, inquietude, caos, vazio... tédio, rotina... É isso, sem firula! Não tem mais como negar, essa é a natureza exata que vivemos internamente.

O: Sim, incapacidade de sentir conexão, de saber o que é amor, felicidade e liberdade. Por mais que nos esforçamos até aqui, nos vimos totalmente incapazes de saber o que é tudo isso.

F: Já podemos parar por aqui, porque o que tem, de fato, é isso; é assim que funcionamos, é assim que somos de fato. Somos essa inquietude crônica, esse mal-estar que não tem mais como ser disfarçado por quem for sério nesse processo de descondicionamento. O que tem é isso! O processo de observação dissecou tudo, mostrando a natureza exata do nosso estado de ser.

O: Ficamos com o que somos, como somos de fato.

F: Bingo, é isso!  É ruim, é uma merda isso que sentimos, por isso que sempre acabamos fugindo de algum modo.

O: É uma merda o que somos.

F: Não aguentamos ficar com isso, o próprio corpo não deixa, porque é uma merda como nos sentimos. É isso! Não queremos ser assim, mas, mesmo não querendo, funcionamos de modo inquieto. Somos assim: sinto frieza e quero sentir amor; sinto mal-estar e quero sentir bem-estar. Não ficamos com isso porque não é nada fácil perceber a realidade pela qual funcionamos; é duro ficar com nossa estrutura mental emocional condicionada. Por vezes, ficamos por pouco tempo, mas logo recaímos na identificação com algum impulso emotivo reativo escapista.

O: Não sinto nada por nada e quero sentir.

F: Isso, não sinto e quero sentir, perfeito! Não consigo conexão e quero me conectar, e por aí vai, perfeito!

O: É assim que somos de fato, sem tentar dourar a pílula com papagaidas espiritualistas que ouvimos de terceiros! Não sentimos nada pelos que nos são próximos (a não ser a culpa por não sentir) e queremos sentir.

F: Sim, quero sentir algo além da culpa ou responsabilidade, quero sentir algo de fato e com sentido real de ser, mas... não sinto! Não sinto nada por ninguém, não sinto nada por nada.

O: isso: por ninguém, por nada.

F: Esse é o fato percebido quando nos descondicionamos do moralismo social; xeque-mate, pois somos incapazes de mudar isso. O pensamento, a análise, o cálculo, o imaginal, nada disso muda o fato de que não sentimos.

O: Sim, qualquer coisa além do xeque-mate, não passa de condicionamento, produto do imaginal.

F: Sim, perfeito! A análise, o cálculo, o pensamento, o imaginal, não alteram a realidade pela qual funcionamos. Esse é o fato!

O: Nem mesmo a explicação pessoal ou de terceiros; nada disso altera a natureza pela qual funcionamos. A afirmação pessoal ou de terceiros também não altera.

F: Nada disso se mostra com um poder superior capaz de produzir uma significativa mutação psicológica.

O: Nada disso nos dá um sentido diferente de direção ou de sentir, nada.

F: Já tentamos isso e, depois que passou a imatura euforia, nos vimos de volta no mal-estar, na desconexão, na incapacidade de saber o que é amor genuíno, etc., etc.

O: Nada nos dá clareza além desta clareza que nos permitiu ver a natureza exata do que somos, a natureza exata da base pela qual funcionamos.

F: Voltamos ao crônico mal-estar, é o que tem, fora disso, é só mais uma forma de crença ou ilusão. É isso! A crença no que deve ou não deve, não muda o fato de sentirmos mal-estar. O que imaginamos não muda o mal-estar, considerando que tudo, então, é produto do imaginal.

O: Até porque, não temos como afirmar o que é que deve e o que é que não deve ser feito; o que deve ou que não deve, vai de acordo com o imaginal pessoal, por isso, o deve ou não deve, é mais uma forma de condicionamento em ação.

F: Isso está visto claramente. Terrível o momento; Nada fácil engolir a realidade do que é.

O: Sim, ver como somos, como sentimos de fato, sem disfarces, sem o filtro moralista, sem a fumaça dos conceitos espiritualistas, ver o que é como é: uma mente mesquinha, condicionada, débil e sem lucidez, cujo olhar está viciado, com total desconhecimento do que é gratidão, compaixão e bem-querer real.

F: Isso! Pequenina! E por ai vai! Nem precisa acrescentar mais características de suas limitações.

O: Concordo! Ficamos aqui?

F: Ficamos na base que é o mal-estar, sem acrescentarmos mais nada. O fato é que o que sinto é mal-estar; chegamos no miolo. Veja, se começamos a nos questionar se é o meio, se é o estilo de vida, o ambiente, logo estaremos na frente da tv caçando falas nos filmes, e, como já sabemos, não vamos achar nada que nos mude de fato.

O: Nada de fora tem serventia, sinto que a resposta precisa ocorrer sem interferência, porque interferência, é condicionamento, produz dependência, termina sempre em frustração.

F: Fato! Já está mais que visto!

O: Hoje você já vê a pequenez em tudo, nem mesmo o sublime condicionamento “Deus” funcionou, que dirá o resto; anônimos, Krishnamurti, não funcionou, que dirá o resto.

F: Tudo isso acabou! Somos a inquietude. Enquanto inquieto, não me permito fazer nada com inteireza.

O: A inquietude não deixa, você não saboreia nada.

F: Zero! O filtro da inquietude não deixa.

O: Acabou qualquer programação para mudar o que somos, na direção daquilo que imaginamos que deveríamos ser. O que imaginamos que deveríamos ser também não funcionou.

F: Nunca! Queríamos ser qualquer coisa, menos, ver isso que somos.

O: Mesmo com esta percepção brutal, a inquietude permanece como base.

F: Sim, ela é a base.

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