06/05/2021

As breves manifestações do estado de ser incondicionado

 

F: Terminamos nossa conversa com você falando sobre as breves manifestações do estado de ser incondicionado. Sabemos que eles existem, mas que não sabemos nem porque nem como ocorre.

O: Isso me parece ser o que somos, quando nossa mente está livre do conteúdo do passado.

F: Isso existe mesmo.

O: Não há como contestar esse "incausado", "não condicionado" estado de integração e bem-aventurança.

F: Isso: não adianta buscar, desejar. Não adianta nada. Interessante percepção que não há nada que precisamos fazer, nem que precisamos praticar, retirando todo peso e esforço que vem desse ter que fazer algo para tal propósito.

O: Sim, não existe nada como uma sequência de ações que possam nos "prontificar" para tal manifestação.

F: Exato!

O: Não há como condicionar a manifestação do estado incondicionado de ser. Não há cálculo autocentrado que possa causá-lo. Aliás, pelo que me parece aqui, o cálculo autocentrado é uma das maiores traves de tropeço. Assim como a árvore não pode condicionar a queda da folha ou do fruto, parece-me que não podemos condicionar o colapso, a queda da limitada estrutura psíquica pela qual funcionamos de modo disfuncional. O vento sopra onde quer, você escuta o seu som, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai; assim ocorre com todos os nascidos do estado incondicionado de ser.

F: Sim, perfeito! Igual os pensamentos, as sensações, o conteúdo do imaginal sensorial. Isso aqui é uma leitura pesada para quem ainda se encontra muito condicionado.

O: Uma das maiores ilusões parece-me ser a ideia de "manter um contato consciente com o Deus da sua concepção". A mente condicionada por doações psicológicas de mentes ainda confusas — talvez em menor proporção — imaginou sua ideia de Deus, imaginou também sua forma prática de contato, portanto, tudo produto do imaginal condicionado. imaginou também o que ela conseguiria através de tal contato: o findar da sua confusa inquietude. Portanto, o tal Deus de sua concepção, nada mais é do que mais uma das opções de fuga da inquietude. Por isso não produziu liberdade: ilusão não liberta da ilusão.

Isso está claro para mim: que se não ocorrer um colapso, uma queda, permanecemos onde e como estamos.

F: Para mim, chegamos num “não sabemos o que tem que ocorrer”. Não sabemos o que tem que ocorrer.

O: Mas sabe que algo tem que ocorrer, que não pode ser só isso, não sabe?

F: Imaginamos que tem que ocorrer algo porque a inquietude é demais. Não pode ser só inquietude.

O: Não faz sentido um viver na inquietude.

F: Nenhum.

O: Não faz sentido nenhum um viver em que não se sente bem-aventurança, alegria, felicidade, amor, comunhão, integração, real sentido de ser. Continuar existindo sem saber o sentido de existir.

F: Para mim, isso está possivelmente no findar da inquietude.

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