F: Terminamos nossa conversa com
você falando sobre as breves manifestações do estado de ser incondicionado.
Sabemos que eles existem, mas que não sabemos nem porque nem como ocorre.
O: Isso me parece ser o que somos,
quando nossa mente está livre do conteúdo do passado.
F: Isso existe mesmo.
O: Não há como contestar esse
"incausado", "não condicionado" estado de integração e
bem-aventurança.
F: Isso: não adianta buscar, desejar.
Não adianta nada. Interessante percepção que não há nada que precisamos fazer,
nem que precisamos praticar, retirando todo peso e esforço que vem desse ter
que fazer algo para tal propósito.
O: Sim, não existe nada como uma
sequência de ações que possam nos "prontificar" para tal
manifestação.
F: Exato!
O: Não há como condicionar a
manifestação do estado incondicionado de ser. Não há cálculo autocentrado que
possa causá-lo. Aliás, pelo que me parece aqui, o cálculo autocentrado é uma
das maiores traves de tropeço. Assim como a árvore não pode condicionar a queda
da folha ou do fruto, parece-me que não podemos condicionar o colapso, a queda
da limitada estrutura psíquica pela qual funcionamos de modo disfuncional. O
vento sopra onde quer, você escuta o seu som, mas não sabe de onde vem, nem
para onde vai; assim ocorre com todos os nascidos do estado incondicionado de
ser.
F: Sim, perfeito! Igual os pensamentos,
as sensações, o conteúdo do imaginal sensorial. Isso aqui é uma leitura pesada
para quem ainda se encontra muito condicionado.
O: Uma das maiores ilusões
parece-me ser a ideia de "manter um contato consciente com o Deus da sua
concepção". A mente condicionada por doações psicológicas de mentes ainda
confusas — talvez em menor proporção — imaginou sua ideia de Deus, imaginou
também sua forma prática de contato, portanto, tudo produto do imaginal
condicionado. imaginou também o que ela conseguiria através de tal contato: o
findar da sua confusa inquietude. Portanto, o tal Deus de sua concepção, nada
mais é do que mais uma das opções de fuga da inquietude. Por isso não produziu
liberdade: ilusão não liberta da ilusão.
Isso está claro para mim: que se
não ocorrer um colapso, uma queda, permanecemos onde e como estamos.
F: Para mim, chegamos num “não
sabemos o que tem que ocorrer”. Não sabemos o que tem que ocorrer.
O: Mas sabe que algo tem que
ocorrer, que não pode ser só isso, não sabe?
F: Imaginamos que tem que ocorrer
algo porque a inquietude é demais. Não pode ser só inquietude.
O: Não faz sentido um viver na
inquietude.
F: Nenhum.
O: Não faz sentido nenhum um
viver em que não se sente bem-aventurança, alegria, felicidade, amor, comunhão,
integração, real sentido de ser. Continuar existindo sem saber o sentido de
existir.
F: Para mim, isso está possivelmente no findar da inquietude.
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