O: Acordei com o mesmo sentimento
de necessidade de encontrar algo com real sentido de ser para o dia. Observando
o sentimento, surgiu o pensamento de que a única coisa que realmente faria
sentido, seria descobrir um estado de bem-estar, de liberdade, felicidade e
lucidez genuinamente criativa e compartilhar tal descoberta com quem ainda
sofre da base de inquietude.
F: Simples: Acordamos com a
inquietude que nos lança a pensar sobre como sair da inquietude. Trata-se da
base em ação. Pode que toda papagaiada surgiu daí.
O: O que me veio, para mim, faz
total sentido.
F: Mas ainda é pensamento, por
mais clareza que haja... Trata-se de mais um pensamento que nos lança no
looping.
O: Não me lançou em nenhum
looping; foi apenas uma constatação.
F: O pensamento é o looping, que
é uma reação da própria inquietude; só que a gente quebra o looping por meio da
observação, retornando assim para a observação da inquietude... Daí volta na
ponte pensamentos-inquietude... Estrangulou!
O: Não se trata de voltar, pois
não se saiu da inquietude, nem mesmo durante a constatação. Também não se trata
de um looping, pois não estou pensando em como conseguir isso.
F: A sensação de inquietude é
única, já o pensamento, é outra coisa.
O: Apenas uma constatação que compartilho
com você.
F: Os pensamentos são repetitivos,
vejo isso claramente. Sempre a mesma coisa. Veja, acordo inquieto todos os
dias, todo santo dia. Na sequência, entram os pensamentos dizendo: “Tem que ter
algo”... Veja, é novamente o pensamento reagindo ao fundo de inquietação.
O: Não há problema em ser
pensamento, não o demonize. Pensar é uma coisa, loopar em pensamentos
compulsivos é outra bem diferente. Foi apenas uma constatação e ponto. Constatada
sem o desespero de ter aquilo. Segue o dia na rotina.
F: Não se trata de demonizar o
pensamento; já não vejo problema nisso.
O: Opção que se apresenta para o
dia: depois das atividades forçosas, pintar outra aquarelinha. Patético!
F: Eu vou para outra aulinha,
outra reunião, lidar com as questões familiares, almoço e janta... Cômico!
O: Hoje, a sensação de total
falta de sentido de ação está muito forte, e o pensamento lança o looping de
reação, sugerindo as mesmas atividades de ontem.
F: Porque, talvez, vimos muito
claramente o funcionamento do mecanismo.
O: O pensamento só tem o poder de
apresentar o conhecido que já se mostrou insatisfatório. O novo não vem por
meio dele.
F: Ele só trabalha com base no
passado, com base no que ele adquiriu. Só isso. Ele é isso!
O: São as sugestões de sempre;
incrível como nossa mente se encontra limitada.
F: Sim, isso mesmo.
O: percebo também que, uma das
formas que o pensamento cria como sugestão para sair da rotina conhecida, é
comprar algo novo. algo que faça "sumir" a sensação de rotina, por
meio do con-sumismo... sumismo... fazer sumir... e a mente justifica esse
impulso ao consumismo, mas, a observação deixa claro que é só mais uma forma de
impulso emotivo reativo escapista.
F: A gente não fica com o
desconforto. Veja que legal... Estamos nos comunicando e você escreveu sobre a “sensação
de rotina”. Interessante... Não seria a própria inquietude? O desconforto não quer
ser visto, sentido, percebido.
O: Esse impulso por uma forma de
consumo, como uma possibilidade de acabar com o sentimento de insatisfação, me
parece ser algo muito presente em nosso cotidiano, mesmo em nossos tratos
sociais, mas o mesmo não é percebido. Veja que quando vamos na casa de alguém,
logo nos servem do bom e do melhor, e nos perguntam se "estamos satisfeitos"...
Parece ser algo intrínseco, esse sentido de insatisfação, bem como a
necessidade de consumo para superar a insatisfação.
F: Mas não escapa.
O: Mas por muito tempo nos
iludimos com esse mecanismo... consumir por não comungar. acho que nunca
tivemos mesmo a "primeira comunhão"... Com nada, com ninguém.
F: Por décadas, iludidos por
iludidos. Nunca tivemos a primeira comunhão, nunca nos vimos “como um”. Fato.
O: E a mente quer lançar o
desespero por não saber como conseguir isso, mas sua jogada é percebida quando lança
a tentativa que é frustrada pela observação.
F: Ou se questiona, o que fazer?
Veja, reação sobre reação. É desse modo que ela funciona. Visto isso, ela fica
se questionando: “o que fazer?”
O: ela sempre cai nesse looping. Porque,
quanto mais ela vê de seu adulterado e limitado mecanismo, mais ela se inquieta.
F: O mecanismo está pego, toda
estrutura está pega, ela está sendo estrangulada pela observação relâmpago. Mas
antes da instalação e amadurecimento da observação passiva não reativa, a coisa
não era assim; a observação relâmpago mudou tudo; daí que digo que algo novo pode
surgir.
O: A observação relâmpago está
nos imunizando contra a neurótica reação, contra a imatura identificação
emotiva reativa escapista.
F: Sim, percebo que é bem isso
que está acontecendo. Hoje sentimos a energia do pensamento no ato de sua
manifestação, a tensão que ele traz.
O: Tudo está sendo pego no ato,
toda oscilação, toda contradição de sugestões, toda exigência que ele faz.
F: Então, já não importa mais o
conteúdo do pensamento. Agora virou apenas uma energia que ele traz, a qual é
capaz de produzir somatização sensorial.
O: Sim, trata-se de pensamentos
condicionados, viciados, carga do conhecido.
F: Perfeito! Cujo conteúdo, não
tem realidade alguma.
O: Mesmo a somatização, quando
ocorre, também é vista como uma energia passante. Não reagir a nenhum dos dois
polos do mecanismo, é sentido como a única coisa correta a ser feita. O
pensamento insiste e persiste com seu conteúdo e, quando ele percebe isso,
persiste e insiste em descobrir como silenciar seu conteúdo, como funcionar num
nível diferente, fora do conteúdo.
F: Mesmo a somatização é vista
como uma energia passante. Não reagir a nenhum dos polos, imaginal ou sensorial,
é que tem mudado o rumo das coisas.
O: Isso que eu quis dizer ontem
sobre, pela primeira vez na vida, estarmos sendo senhores do nosso destino, não
mais um pau mandado do imaginal sensorial inquieto.
F: O pensamento não pode fazer
com que seu conteúdo silencie, porque isso não funciona pelo esforço, pelo
cálculo.
O: Sabemos bem pois já tentamos
isso e fracassamos.
F: Imaginal ou sensorial é uma
energia só. O conteúdo não importa, mas se você se envolver com qualquer um
deles, já era.
O: A mente se questiona quanto a possibilidade
de um estado de ser onde a mecanicidade não solicitada, tanto do imaginal como
do sensorial, não ocorra.
F: Sim, ele sempre traz essa
forma de raciocínio.
O: Mas mesmo isso vem através da
mecanicidade, é parte integrante de seus loopings, pelo qual tenta,
inutilmente, solucionar o seu viver.
F: Exato! Veja que débil.
O: Sim, toda debilidade está sendo
vista.
F: Sim, tudo está sendo visto e
não há solução.
O: Sobra a inquietude e a
impotência.
F: Sim, a impotência diante da
inquietude e da rotina vista como sem sentido.
O: A mente também se percebe com
o olhar viciado e se pergunta: é possível ver a tudo sem suas manias,
tendências e vícios? É possível um olhar livre de imagens, conceitos, achismos
e condicionamentos? Ou tudo isso são só criações da própria mente condicionada
por ideias de terceiros?
F: Parece agora não ser possível;
são truques da própria mente; todas essas suposições sobre possibilidades
futuras vinda do imaginal, não passam de truques para perpetuar seu looping
pelo qual se mantém.
O: Isso também pode ser um
truque, outra suposição dizendo que são suposições ou truques. Pode ser outra
manifestação do pensamento circular. Afirmar ou negar, agora, parece dar na
mesma.
F: Sim, pode ser!
O: Todas as certezas se tornaram
incertas, não temos mais onde nos agarrarmos.
F: De certeza, só a presença do
looping de inquietude! Aliás, no meu modo de ver, a inquietude não parece ser
looping, mas sim a base, pois ela nunca sai. O indivíduo, assim como o imaginal,
precisará chegar num momento de fazer as pazes não só com os próprios demônios imaginários
mas com o própria inquietude.
O: Isso me parece mais uma das certezas
incertas vinda do looping, outra do imaginal tentando se solucionar.
F: Esquece, Out, não tem o que
fazer, não tem solução.
O: Não temos o que falar sobre o
que deve ser feito porque não o fizemos, não estamos livres, portanto, trata-se
de só mais produções do imaginal, parte dos seus achismos. Xeque.
F: Mas é isso mesmo! Só há o fato
da inquietude.
O: E a permanência na rotina sem
sentido e sem qualquer conexão significativa. E segue a roda!
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