26/05/2021

Sobre a necessidade de encontrar algo com real sentido

O: Acordei com o mesmo sentimento de necessidade de encontrar algo com real sentido de ser para o dia. Observando o sentimento, surgiu o pensamento de que a única coisa que realmente faria sentido, seria descobrir um estado de bem-estar, de liberdade, felicidade e lucidez genuinamente criativa e compartilhar tal descoberta com quem ainda sofre da base de inquietude.

F: Simples: Acordamos com a inquietude que nos lança a pensar sobre como sair da inquietude. Trata-se da base em ação. Pode que toda papagaiada surgiu daí.

O: O que me veio, para mim, faz total sentido.

F: Mas ainda é pensamento, por mais clareza que haja... Trata-se de mais um pensamento que nos lança no looping.

O: Não me lançou em nenhum looping; foi apenas uma constatação.

F: O pensamento é o looping, que é uma reação da própria inquietude; só que a gente quebra o looping por meio da observação, retornando assim para a observação da inquietude... Daí volta na ponte pensamentos-inquietude... Estrangulou!

O: Não se trata de voltar, pois não se saiu da inquietude, nem mesmo durante a constatação. Também não se trata de um looping, pois não estou pensando em como conseguir isso.

F: A sensação de inquietude é única, já o pensamento, é outra coisa.

O: Apenas uma constatação que compartilho com você.

F: Os pensamentos são repetitivos, vejo isso claramente. Sempre a mesma coisa. Veja, acordo inquieto todos os dias, todo santo dia. Na sequência, entram os pensamentos dizendo: “Tem que ter algo”... Veja, é novamente o pensamento reagindo ao fundo de inquietação.

O: Não há problema em ser pensamento, não o demonize. Pensar é uma coisa, loopar em pensamentos compulsivos é outra bem diferente. Foi apenas uma constatação e ponto. Constatada sem o desespero de ter aquilo. Segue o dia na rotina.

F: Não se trata de demonizar o pensamento; já não vejo problema nisso.

O: Opção que se apresenta para o dia: depois das atividades forçosas, pintar outra aquarelinha. Patético!

F: Eu vou para outra aulinha, outra reunião, lidar com as questões familiares, almoço e janta... Cômico!

O: Hoje, a sensação de total falta de sentido de ação está muito forte, e o pensamento lança o looping de reação, sugerindo as mesmas atividades de ontem.

F: Porque, talvez, vimos muito claramente o funcionamento do mecanismo.

O: O pensamento só tem o poder de apresentar o conhecido que já se mostrou insatisfatório. O novo não vem por meio dele.

F: Ele só trabalha com base no passado, com base no que ele adquiriu. Só isso. Ele é isso!

O: São as sugestões de sempre; incrível como nossa mente se encontra limitada.

F: Sim, isso mesmo.

O: percebo também que, uma das formas que o pensamento cria como sugestão para sair da rotina conhecida, é comprar algo novo. algo que faça "sumir" a sensação de rotina, por meio do con-sumismo... sumismo... fazer sumir... e a mente justifica esse impulso ao consumismo, mas, a observação deixa claro que é só mais uma forma de impulso emotivo reativo escapista.

F: A gente não fica com o desconforto. Veja que legal... Estamos nos comunicando e você escreveu sobre a “sensação de rotina”. Interessante... Não seria a própria inquietude? O desconforto não quer ser visto, sentido, percebido.

O: Esse impulso por uma forma de consumo, como uma possibilidade de acabar com o sentimento de insatisfação, me parece ser algo muito presente em nosso cotidiano, mesmo em nossos tratos sociais, mas o mesmo não é percebido. Veja que quando vamos na casa de alguém, logo nos servem do bom e do melhor, e nos perguntam se "estamos satisfeitos"... Parece ser algo intrínseco, esse sentido de insatisfação, bem como a necessidade de consumo para superar a insatisfação.

F: Mas não escapa.

O: Mas por muito tempo nos iludimos com esse mecanismo... consumir por não comungar. acho que nunca tivemos mesmo a "primeira comunhão"... Com nada, com ninguém.

F: Por décadas, iludidos por iludidos. Nunca tivemos a primeira comunhão, nunca nos vimos “como um”. Fato.

O: E a mente quer lançar o desespero por não saber como conseguir isso, mas sua jogada é percebida quando lança a tentativa que é frustrada pela observação.

F: Ou se questiona, o que fazer? Veja, reação sobre reação. É desse modo que ela funciona. Visto isso, ela fica se questionando: “o que fazer?”

O: ela sempre cai nesse looping. Porque, quanto mais ela vê de seu adulterado e limitado mecanismo, mais ela se inquieta.

F: O mecanismo está pego, toda estrutura está pega, ela está sendo estrangulada pela observação relâmpago. Mas antes da instalação e amadurecimento da observação passiva não reativa, a coisa não era assim; a observação relâmpago mudou tudo; daí que digo que algo novo pode surgir.

O: A observação relâmpago está nos imunizando contra a neurótica reação, contra a imatura identificação emotiva reativa escapista.

F: Sim, percebo que é bem isso que está acontecendo. Hoje sentimos a energia do pensamento no ato de sua manifestação, a tensão que ele traz.

O: Tudo está sendo pego no ato, toda oscilação, toda contradição de sugestões, toda exigência que ele faz.

F: Então, já não importa mais o conteúdo do pensamento. Agora virou apenas uma energia que ele traz, a qual é capaz de produzir somatização sensorial.

O: Sim, trata-se de pensamentos condicionados, viciados, carga do conhecido.

F: Perfeito! Cujo conteúdo, não tem realidade alguma.

O: Mesmo a somatização, quando ocorre, também é vista como uma energia passante. Não reagir a nenhum dos dois polos do mecanismo, é sentido como a única coisa correta a ser feita. O pensamento insiste e persiste com seu conteúdo e, quando ele percebe isso, persiste e insiste em descobrir como silenciar seu conteúdo, como funcionar num nível diferente, fora do conteúdo.

F: Mesmo a somatização é vista como uma energia passante. Não reagir a nenhum dos polos, imaginal ou sensorial, é que tem mudado o rumo das coisas.

O: Isso que eu quis dizer ontem sobre, pela primeira vez na vida, estarmos sendo senhores do nosso destino, não mais um pau mandado do imaginal sensorial inquieto.

F: O pensamento não pode fazer com que seu conteúdo silencie, porque isso não funciona pelo esforço, pelo cálculo.

O: Sabemos bem pois já tentamos isso e fracassamos.

F: Imaginal ou sensorial é uma energia só. O conteúdo não importa, mas se você se envolver com qualquer um deles, já era.

O: A mente se questiona quanto a possibilidade de um estado de ser onde a mecanicidade não solicitada, tanto do imaginal como do sensorial, não ocorra.

F: Sim, ele sempre traz essa forma de raciocínio.

O: Mas mesmo isso vem através da mecanicidade, é parte integrante de seus loopings, pelo qual tenta, inutilmente, solucionar o seu viver.

F: Exato! Veja que débil.

O: Sim, toda debilidade está sendo vista.

F: Sim, tudo está sendo visto e não há solução.

O: Sobra a inquietude e a impotência.

F: Sim, a impotência diante da inquietude e da rotina vista como sem sentido.

O: A mente também se percebe com o olhar viciado e se pergunta: é possível ver a tudo sem suas manias, tendências e vícios? É possível um olhar livre de imagens, conceitos, achismos e condicionamentos? Ou tudo isso são só criações da própria mente condicionada por ideias de terceiros?

F: Parece agora não ser possível; são truques da própria mente; todas essas suposições sobre possibilidades futuras vinda do imaginal, não passam de truques para perpetuar seu looping pelo qual se mantém.

O: Isso também pode ser um truque, outra suposição dizendo que são suposições ou truques. Pode ser outra manifestação do pensamento circular. Afirmar ou negar, agora, parece dar na mesma.

F: Sim, pode ser!

O: Todas as certezas se tornaram incertas, não temos mais onde nos agarrarmos.

F: De certeza, só a presença do looping de inquietude! Aliás, no meu modo de ver, a inquietude não parece ser looping, mas sim a base, pois ela nunca sai. O indivíduo, assim como o imaginal, precisará chegar num momento de fazer as pazes não só com os próprios demônios imaginários mas com o própria inquietude.

O: Isso me parece mais uma das certezas incertas vinda do looping, outra do imaginal tentando se solucionar.

F: Esquece, Out, não tem o que fazer, não tem solução.

O: Não temos o que falar sobre o que deve ser feito porque não o fizemos, não estamos livres, portanto, trata-se de só mais produções do imaginal, parte dos seus achismos. Xeque.

F: Mas é isso mesmo! Só há o fato da inquietude.

O: E a permanência na rotina sem sentido e sem qualquer conexão significativa. E segue a roda!

Nenhum comentário:

Postar um comentário