27/05/2021

A base de inquietude e a ânsia de consumo


O: Bom dia da Marmota para você! Aqui, novamente a ausência de sentido, com as mesmas opções do dia de ontem. Já tomei o lugar no sofá, porque nada surge de novo; são as mesmas opções que a mente apresenta. Vejo que estamos mesmo presos num looping do conhecido insatisfatório, no looping de uma rotina que, fora as forçosas atividades para a manutenção do corpo, as demais, não fazem sentido. As únicas sugestões da mente: dar um pulo no local que presto serviço, tomar um café, voltar e pintar mais uma aquarela, a qual só vai colecionar alguns likes e elogios nas redes sociais. Todas as sugestões que a mente lança, de imediato, a observação as mostra sem real sentido de ser. Penso que o que nos resta é aguardar por um insight que nos apresente algo que sintamos fazer sentido, que nos toque de fato. Diante disso, pelo menos aqui, inevitavelmente, entra a rotina da exclamação: Viver, não pode ser só isso!

F: Exato! Cada vez mais claro: pela mente, não tem saída; ela se mostra incapaz de apresentar algo novo e com real sentido. Vejo que como quebrou muito a identificação com o que surge do pensamento mecânico e não solicitado, como ficou claro que cada pensamento se apresenta com uma mensagem a parte, a qual se mostra desconexa da anterior, e na maioria das vezes, também desconexa da mensagem seguinte, tudo ficou muito vago.

O: Sim, sem direção, pois não há como levar a série a série de desconexões. Com isso, o que fica? A velha base da inquietude não resolvida, a qual nos joga num neurótico movimento daqui pra lá, de lá pra cá, numa movimentação destituída de qualquer sentido. Fica o looping de projeções causando sensações que, quando identificadas, se dissolvem, só para darem lugar a novas projeções que, igualmente, lançam novas sensações que são percebidas e se dissolvem... Fica nisso, loopando sem apresentar qualquer lógica, se mantendo sempre desconexo.

F: Não tem saída!

O: O pensamento não chega num: "Ah! É isso e ponto!"... fica em looping.

F: Fica.

O: O mecanismo é o mesmo, e as percepções, agora, permanecem as mesmas... Carecemos de uma percepção além. Se não surgir uma percepção além, superior a que estamos tendo, permanecemos prisioneiros da base de inquietude, permanecemos na mesma rotina, na mesma desconexão. Não há conexão alguma com o viver.

F: Exato, não há conexão alguma com o viver! Permanece o looping, onde nos vemos sem conexão com os desconexos. Não tem como ter conexão.

O: Cara, que situação angustiante. Total impotência! Cada ideia de ação, já nasce velha, sem sentido de colocar energia ali.

F: Nasce velha porque nasce da velha e condicionada estrutura.

O: A não ser que seja uma forçada responsabilidade de ação, da qual você não tem como escapar.

F: Sim, não há como escapar.

O: E quando essas se apresentam, tornam-se um parto! Creio que todo aquele que se limpar da narcotização literária, da narcotização conceitual espiritualista, inevitavelmente cai nisto.

Bate a inquietude pela falta de ação e a mente diz: "Vai lá acabar a aquarela que você começou ontem a noite por falta de sono". Imediatamente lançada a ideia, ela diz: "Pra quê? O que mudaria se você pintasse a Monalisa do século? Acabaria com a sua inquietude? Pintar a Monalisa do século seria o sentido do seu viver? 500.000 likes solucionariam sua ausência de sentido? Se você vendesse todas as aquarelas que fez até aqui, e que agora estão amontoadas num canto a sua estante, será que isso dissolveria essa crônica base de inquietude e de ausência de sentido? E o próprio pensamento dá a resposta para si mesmo: claro que não! E com essa resposta, ele vai minando a identificação com o impulso para pintar.

F: Igual aqui! A mente pede para escrever algo, criar um projeto, uma dissertação, iniciar uma nova pesquisa no campo em que atuo, etc., etc.

O: Parece que essa é a base e o mecanismo que mantém todos nesse frenético movimento de buscar por objetivos que, uma vez conquistados, se tornam cinzas em nossas mãos, não levam a nada mais que a cristalização da inquietude e novos velhos objetivos para tentar sair da inquietude.

F: Exato! Quem tem a observação, não tem como não ver mais isso. Cada pensamento surge como um morto solto, sem real sentido, por isso não é mais levado a sério. Por isso tudo perdeu a graça. Talvez, nem era graça, só parecia gracioso.

O: Se você olhar bem, nunca ouve graça real, apenas uma euforia momentânea. Sempre nos forçamos a ver graça, mas a graça que víamos, não era graça, era só um cálculo mental.

F: Sim.

O: Não sabemos o que é graça, não sabemos o que é beleza, não sabemos o que é conexão genuína. O que temos por beleza, é parte dos nossos condicionamentos, é parte da pessoalidade, é influência cultural.

F: Sim, tudo cálculo!

O: Cada vez mais claro a exata natureza que movimenta o consumismo e o capitalismo... É a base de inquietude. O consumo se dá por meio da imatura identificação com o impulso emotivo reativo escapista, que quer sentir um prazer momentâneo no lugar da base de inquietude. Por meio da inquietude e pela ação dos instintos adulterados, consumimos além do que nos é necessário, bem como o que de modo algum nos é, de fato, necessário... consumo por impulso emotivo reativo.

F: No momento atual, nem consumindo e nem não consumindo, resolve nossa inquietação. Está visto aqui... Compra dor, vende dor, consumi dor....

O: Bem que eu disse!


Nenhum comentário:

Postar um comentário