O: Bom dia da Marmota para você!
Aqui, novamente a ausência de sentido, com as mesmas opções do dia de ontem. Já
tomei o lugar no sofá, porque nada surge de novo; são as mesmas opções que a mente
apresenta. Vejo que estamos mesmo presos num looping do conhecido
insatisfatório, no looping de uma rotina que, fora as forçosas atividades para
a manutenção do corpo, as demais, não fazem sentido. As únicas sugestões da
mente: dar um pulo no local que presto serviço, tomar um café, voltar e pintar
mais uma aquarela, a qual só vai colecionar alguns likes e elogios nas redes
sociais. Todas as sugestões que a mente lança, de imediato, a observação as
mostra sem real sentido de ser. Penso que o que nos resta é aguardar por um
insight que nos apresente algo que sintamos fazer sentido, que nos toque de
fato. Diante disso, pelo menos aqui, inevitavelmente, entra a rotina da
exclamação: Viver, não pode ser só isso!
F: Exato! Cada vez mais claro: pela
mente, não tem saída; ela se mostra incapaz de apresentar algo novo e com real
sentido. Vejo que como quebrou muito a identificação com o que surge do pensamento
mecânico e não solicitado, como ficou claro que cada pensamento se apresenta
com uma mensagem a parte, a qual se mostra desconexa da anterior, e na maioria
das vezes, também desconexa da mensagem seguinte, tudo ficou muito vago.
O: Sim, sem direção, pois não há
como levar a série a série de desconexões. Com isso, o que fica? A velha base
da inquietude não resolvida, a qual nos joga num neurótico movimento daqui pra
lá, de lá pra cá, numa movimentação destituída de qualquer sentido. Fica o
looping de projeções causando sensações que, quando identificadas, se dissolvem,
só para darem lugar a novas projeções que, igualmente, lançam novas sensações
que são percebidas e se dissolvem... Fica nisso, loopando sem apresentar qualquer
lógica, se mantendo sempre desconexo.
F: Não tem saída!
O: O pensamento não chega num:
"Ah! É isso e ponto!"... fica em looping.
F: Fica.
O: O mecanismo é o mesmo, e as
percepções, agora, permanecem as mesmas... Carecemos de uma percepção além. Se
não surgir uma percepção além, superior a que estamos tendo, permanecemos prisioneiros
da base de inquietude, permanecemos na mesma rotina, na mesma desconexão. Não
há conexão alguma com o viver.
F: Exato, não há conexão alguma
com o viver! Permanece o looping, onde nos vemos sem conexão com os desconexos.
Não tem como ter conexão.
O: Cara, que situação
angustiante. Total impotência! Cada ideia de ação, já nasce velha, sem sentido
de colocar energia ali.
F: Nasce velha porque nasce da
velha e condicionada estrutura.
O: A não ser que seja uma forçada
responsabilidade de ação, da qual você não tem como escapar.
F: Sim, não há como escapar.
O: E quando essas se apresentam,
tornam-se um parto! Creio que todo aquele que se limpar da narcotização
literária, da narcotização conceitual espiritualista, inevitavelmente cai
nisto.
Bate a inquietude pela falta de
ação e a mente diz: "Vai lá acabar a aquarela que você começou ontem a
noite por falta de sono". Imediatamente lançada a ideia, ela diz:
"Pra quê? O que mudaria se você pintasse a Monalisa do século? Acabaria
com a sua inquietude? Pintar a Monalisa do século seria o sentido do seu viver?
500.000 likes solucionariam sua ausência de sentido? Se você vendesse todas as aquarelas
que fez até aqui, e que agora estão amontoadas num canto a sua estante, será
que isso dissolveria essa crônica base de inquietude e de ausência de sentido?
E o próprio pensamento dá a resposta para si mesmo: claro que não! E com essa
resposta, ele vai minando a identificação com o impulso para pintar.
F: Igual aqui! A mente pede para
escrever algo, criar um projeto, uma dissertação, iniciar uma nova pesquisa no campo
em que atuo, etc., etc.
O: Parece que essa é a base e o
mecanismo que mantém todos nesse frenético movimento de buscar por objetivos
que, uma vez conquistados, se tornam cinzas em nossas mãos, não levam a nada
mais que a cristalização da inquietude e novos velhos objetivos para tentar
sair da inquietude.
F: Exato! Quem tem a observação,
não tem como não ver mais isso. Cada pensamento surge como um morto solto, sem
real sentido, por isso não é mais levado a sério. Por isso tudo perdeu a graça.
Talvez, nem era graça, só parecia gracioso.
O: Se você olhar bem, nunca ouve
graça real, apenas uma euforia momentânea. Sempre nos forçamos a ver graça, mas
a graça que víamos, não era graça, era só um cálculo mental.
F: Sim.
O: Não sabemos o que é graça, não
sabemos o que é beleza, não sabemos o que é conexão genuína. O que temos por
beleza, é parte dos nossos condicionamentos, é parte da pessoalidade, é
influência cultural.
F: Sim, tudo cálculo!
O: Cada vez mais claro a exata
natureza que movimenta o consumismo e o capitalismo... É a base de inquietude.
O consumo se dá por meio da imatura identificação com o impulso emotivo reativo
escapista, que quer sentir um prazer momentâneo no lugar da base de inquietude.
Por meio da inquietude e pela ação dos instintos adulterados, consumimos além
do que nos é necessário, bem como o que de modo algum nos é, de fato,
necessário... consumo por impulso emotivo reativo.
F: No momento atual, nem
consumindo e nem não consumindo, resolve nossa inquietação. Está visto aqui... Compra
dor, vende dor, consumi dor....
O: Bem que eu disse!
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