F: Queria colocar algo mais sobre
isso que chamamos de Platô de Indiferença...Para ser sincero, vejo muitas
bênçãos por trás dessa sentida e consciente inquietude do platô...
O: Aprofunde!
F: Veja, ela nos tirou dos grupos
anônimos, dos sistemas de crença organizada, arrancou padre, pastor, psicólogo,
ioga, retirou praticamente do serviço, da busca de ideais, da luta por poder,
prestígio, imagem de sucesso, o querer ser o primeiro no pódio...
O: Sim!
F: Tirou busca, o sentimentalismo
barato, a identificação completa com a estrutura psicológica, a autopiedade.
O: Sim, arrancou toda possibilidade
dos imaturos mimimis, da compulsão pelo desabafo, pela busca de doações
psicológicas de terceiros. Isso é um fato!
F: Foram anos e anos, vivendo no mesmo
looping de emoções doentias. Tem muita coisa boa nessa inquietude do Platô da
Indiferença.
O: Não discordo.
F: Tirou necessidade de gente ao
redor, tirou a insanidade da oração, da reza frenética, tirou o Deus da minha própria
compreensão confusa, tirou as regras nas quais fui criado... limpou bastante o
Drive.
O: Sim, arrancou aquele impulso
neurótico de ter que ter sempre a última palavra em tudo, de ter que criar
polêmicas, de ter que se mostrar o Google da sabedoria.
F: Temos uma estrutura complexa...
pegue como padrão, por exemplo, um cidadão como Krishnamurti...
O: Que tem ele?
F: Aí fica difícil, não é mesmo?
O: Depende... Antes da retomada
do estado incondicionado, ele era um cara pra lá de complexado, nada diferente
da compartilhada estrutura psíquica.
F: Tirou a necessidade de muitas
sensações que eram como que obrigatórias ao viver. A inquietude do Platô da
Indiferença, está nos arrancando de dentro do ovo, cuja casca é feita dos
condicionamentos do mundo. Saca, aquela imagem?
O: Sim, aquela imagem de Salvador
Dali.
F: Imagem pesada, forte; note que
a casca é o mundo... Eu estava meditando aqui... Por que não olhamos ao nosso
redor com o mesmo olhar de quem assiste um filme novo? Saca? Percebe?
O: Já disse que nosso olhar está
condicionado, que segue um padrão. E não tem como mudar esse padrão, despir-se
desse condicionamento, por puro esforço
F: Sim, pelo esforço não tem como.
Mas, quando vemos um filme, pelo menos nossa total atenção em alguns momentos
fica ali.
O: Não sei você, mas mesmo num
filme, hoje, já vou com aquele sentimento de que vou encontrar apenas mais do
mesmo.
F: Sim, também tem isso.
O: Penso que o que vivemos hoje,
essa capacidade de ficar com a inquietude sem se entregar para nenhum tipo de
impulso emotivo reativo escapista, é algo muito semelhante mesmo às obras de
Salvador Dali... Parece algo surreal.
F: Sim, hoje temos a capacidade de
ficar com a sensação que se apresenta, pegando suas nuances mais sutis,
sentindo de modo integral...
O: A casca da estrutura condicionada está rompendo de dentro para fora, sem esforço, sem churumelas, sem lenga-lenga. Quando imaginamos que isso seria possível? Quando imaginamos que alcançaríamos esse poder? Realmente, isso é uma grande benção.
F: Exato! A mutação psíquica já está ocorrendo... Você também sabe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário