05/01/2022

Somos seres desconectados

H: Bom dia, Out! Ouvi os áudios e é bem isso! É foda! Eu nem ia para a cidade da minha mãe, e aí falei que eu não ia e ela já começou a me cobrar quanto ao porquê de eu não querer ir, afirmando que ela não aceita isso e coisa e tal. E como que eu posso explicar para ela que eu não quero ir porque não vejo nenhum sentido? Não tem como! Por fim, depois de pensar bem, depois de perceber que tanto ficando aqui como indo para lá, seria o mesmo vazio, a mesma inquietação, decidi ir para lá, pelo menos ela fica mais contente e não me joga suas cobranças. Mas fui desse jeito!... Se você está sentado não se ente bem, se levanta também não se sente bem; vai para lá ou para cá, fica sempre a mesma inquietação, o mesmo vazio, a mesma falta de sentido, sempre a mesma busca por algo que eu nem sei; e as conversas são sempre as mesmas, as mesmas notícias, as mesmas piadas... sempre a mesma coisa, nada muda, todo ano é sempre igual.

O: A superficialidade das relações e a patetice da rotina tradicional, foram escancaradas pela observação.

F: É uma questão de custo-benefício: sai mais caro não participar disso! Na realidade, a observação escancarou a estrutura única. Quem não viu que é a mesma estrutura em todos, ainda está no mimimi maternal, pois a coisa é a mesma tanto aqui como na China, independente do teor da chorumela. Trata-se de uma estrutura vazia, que ficou presa em si, nas próprias preocupações; mesmo sendo observada, ela ainda continua. O que faz cada vez mais com que desconfiemos de textos dos tais ditos mestres, filósofos, etc., etc.

O: Não só isso: Quando você vê essa debilidade compartilhada, você percebe a total insanidade que é também acreditar num Deus que tenha criado e sustenta tudo isso. Depois que você percebe esse mecanismo global, os hiatos nas relações superficiais e o sentimento de desconexão, inevitavelmente cai naquela questão: Então, é só isso? Quando não é essa questão, surge esta: e acordei logo com a pergunta: que porra que é o viver?

F: Ou mesmo acreditar que não existe tal Deus, ou que existe: dá na mesma. A crença ou a descrença em Deus, depende do condicionamento dessa estrutura. Mas o fato é: onde teve conexão?

O: Depois que a observação arrancou a ambição condicionada pela mídia, a qual dava um sentido falso para o viver, este, se mostrou patético demais. Mas todos estão plugados nesse sistema de ilusão hedonista; ninguém questiona nada, todos arrotam suas incertas certezas emprestadas. Vai ficando cada vez mais maçante, permanecer nos ambientes.

F: Não tem saída; por hora é isso. Já vimos o falso de tudo, mesmo no que diz respeito a um modo de sair disso.

MG: Perfeito meu querido amigo... Apenas hedonismo... Busca incessante de prazer (leia-se FUGA) 24 horas por dia... Cegos guiando cegos... Também fiquei reunido com familiares este fim de semana e, ao chegar em casa, sentia-me exausto, como se todas as minhas energias físicas e mentais tivessem se esvaído (e olha que eu só observava e pouco participava).

F: Pelo imaginal esquece, não tem como sair disso! Looping de ano novo. Entrou no imaginal para usá-lo como ferramenta de compreensão, tomou o pega; resta apenas observar, só ficar esperto ali, mais nada. A estrutura é pegajosa, é feito areia movediça: não há como entrar ali, é só olhar.

O: Ridículo demais tudo isso!

F: É isso? A resposta que vem aqui é: É isso!

O: Sim, um "É", bem patético; se não há um mínimo de maturidade, um mínimo de base emocional, ver isso é risco de suicídio.

F: Ninguém consegue simplesmente ver ou ouvir sem colocar qualquer emenda. Ninguém escuta. A sorte é que aqui o looping do imaginal já era, não afeta mais; nem sequer assusta. A observação mostrou que não tem nada ali de real. Ficar olhando para ele, é literalmente perda de tempo e energia.

A: Aqui é bem parecido: não tem nada de novo, sempre os mesmos protocolos a serem cumpridos; só inquietação. Neste feriado, a espera pela meia-noite só foi possível, porque usei a neta para disfarçar a angústia que estava sentindo.

O: A inquietude não tem fim.

F: Então, que se foda a inquietude também. Se ela não cair por si, ficamos nisso: uma volta na praça, sofá...

O: Ou mais uma aquarela para colecionar likes.

F: Estou numa irritação só, sei lá! Ouvi os áudios, estão tops! Para a galera que está chegando nisso, é de arrepiar. Uma estrutura competitiva, onde um de acha melhor que o outro, mais esperto, mais inteligente, mais amoroso, onde um quer derrubar o outro, onde todos tentam se proteger. As relações se baseiam nisso.

H: H: Realmente! Eu sou do interior, e durante a semana eu trabalho aqui em São Paulo, e quando desço na rodoviária... É impossível você não observar aquele monte de pessoas feito gado indo para as festividades de fim de ano e agora voltando... aquele fluxo que ´bem parecido com a minha mente... aquele monte de pessoas indo para cá e para lá naquele terminal rodoviário lotado, metrô lotado, todos vivendo de modo mecânico. Para as pessoas, tal mecanicidade parece ser algo normal. Eu fico ali observando e me questionando: O que é que está acontecendo? Porque todos aceitam viver nessa mecanicidade, viver sem encontrar um real sentido em nada? É sempre a mesma coisa, aquele mais do mesmo... E é fácil perceber, principalmente no metrô, que no fundo no fundo, todos se encontram insatisfeitos. Você percebe a insatisfação estampada no rosto das pessoas. É muita loucura! É muita falta de sentido! E quando chego na rodoviária, é algo que chega a me dar ânsia, um mal-estar, um questionamento sobre o porquê das coisas serem assim e não ter como fazermos nada! O que tem é essa rotina sem sentido! É ficar nisso e só! Tudo vazio! Realmente patético!

F: A maneira como vemos não é o real! Tudo que vemos e ouvimos, está sendo adulterado pelo conteúdo do imaginal. Todas as relações se baseiam em ganhar algo, adquirir algo, se sobressair de algum modo. Mas a observação vai nos arrancando disso também… É inevitável, visto que ela revela. Não temos condições de modificar o que hoje somos, mesmo tendo visto por meio da vivência relâmpago daquele “estado singular”, que não existimos como vemos tudo agora, é essa percepção limitada que se apresenta, com essa sensação de estarmos localizados dentro do corpo. Quando na experiência relâmpago daquele “estado singular”, essa ilusória identificação corporal caiu por terra, pois vimos que não estamos dentro do corpo, muito menos estamos em lugar algum. Entretanto, a estrutura cria a sensação de sermos algo preso, encapsulado dentro do corpo. Ela protege essa ilusão com unhas e dentes. Nessa ilusão, temos a sensação de estar aqui, em algum canto, dentro do peito, dentro da cabeça ou na garganta, o que é um absurdo. Infelizmente, também não temos potência para sair dessa sensação ilusória, pois já vivenciamos algo distinto disso. Então, nossas relações se baseiam nessa ilusão de separatividade: eu, você e os outros. Todos tendo a mesma sensação de estarem separados e presos dentro de seus corpos, beatamente honrando seus nomes, seus negócios, seus deuses e santos, suas inquestionadas crenças herdadas, ou mesmo suas ideias, seus achismos. Nossas relações não tinham como ser profundas, pois foram construídas sobre o nada, sobre o vazio, sobre essa sensação de separatividade, sempre juntando mais e mais entulho sobre seu nome, suas ideias, seus objetivos imaturos, etc. A Mente parece se perder facilmente, quando de fato, observa tudo isso; ela perde a direção, pois, sem essa sensação de separatividade, é como se vagasse para todos os cantos sem rumos algum. Essa inquietude, essa angústia, esse vazio, seja lá o nome que você dê para a sensação, é a própria energia buscando terra firme, depois de ver cair toda ideia de progresso financeiro ou de crescimento espiritual, etc. e tal. Todo investimento de melhorar, toda ideia de avanço, toda ideia de sempre estar indo em frente e para o alto.... Tudo isso cai por terra e ficamos apenas com a sensação de impotência, a inutilidade do nosso conhecimento adquirido para essa questão do sentido do viver. O conhecimento tem seu lugar apenas restritivo ao sustento do corpo; quanto a resposta do sentido da vida, nosso limitado conhecimento, de nada serve. Temos uma compreensão instantânea da estrutura, mas não temos como transcender a mesma. Estamos como que num jogo de espelhos: Quanto mais olhamos, mais descobrimos sobre a estrutura, mesmo assim, permanecemos na mesma. Parece que nos acostumamos ao modus operantes.

L: Para mim, também não tem saída. A vida do personagem é insatisfatória; em noventa por cento de sua realidade, percebe ser necessário algo desconhecido que de um significado mais profundo ao viver, ou que pelo menos explique internamente, que tudo está certo. Como isso não ocorre, o que resta é compactuar, protocolarmente, no que é cabível, pois aqui ainda não se apresenta a coragem de testar, de ir até o fundo real do viver pessoal (não fazer nada mesmo para ver o que acontece, mesmo virar mendigo se for o caso) para ver onde a coisa vai dar; aqui tem um limite onde o medo é capaz de chegar. Assim, seguimos não sabendo o que fazer, ou não fazer, com esse  modo de viver. Acredito que o que nos diferencia dos demais, é apenas saber da patetice, mas também, não temos a tal autoridade visionária, que nos torne capazes de agir inteligentemente. Só escolhemos recuar mais que os outros, por não termos tanto medo e por estarmos esclarecidos da estrutura, enquanto que eles, por um medo maior, ainda compactuam e aceitam de forma conveniente o que está aí estruturado. Acredito que não chegamos nem no ensaio, mas o que mais incomoda mesmo, é saber que não tenho a visão inteligente para viver dentro de algo que acredito ser necessário essa visão.

O: É bem por aí!

F: Acabou o vazio aí? Quando acaba? Fala logo, vai! Isso aqui parece abstinência de droga. Só dá uma melhoradinha quando vem aquele suspiro que você se centra na própria dor e se solta nela. Igualzinho! Se não há a observação, você fica identificado em tempo integral.

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