MG: Bom dia, Out! Não consigo
conviver com família conhecidos, todos me acham estranho ou louco (só que não
falam). Não tenho real intimidade com minha companheira, não posso ser quem
sou...
F: Nunca tivemos intimidade real,
nunca conseguimos.
O: Você realmente não pode ser
quem você é, só pode ser quem você pensa que é. Nem mesmo você sabe quem é de
fato, por isso a necessidade de simulação.
F: Até porque, se ficar quieto
vai ver que não é nada, apenas um monte de pensamentos passando que não
significam nada… Você fica apenas vendo o que tem na sua frente, ouvindo os
sons que estão por aí, até o vazio imenso se instalar e você voltar a pensar por
que, se não pensar, fica isso de novo. Sem se apoiar no pensamento, não é nada…
O: Não vejo desse modo, a
desconexão é uma realidade, não é coisa do pensamento, apesar de ser criada
pelo pensamento. Pode ficar quieto só observando tudo e vai ver que a
desconexão é real, a ausência de intimidade é real. A observação silenciosa tem
sido a droga de escolha do momento para fugir dessa velha constatação de
inadequação. Somos todos bolhas, fechados em nós mesmos, até mesmo com a
observação.
F: Isso é do pensamento, é ele que
cria a ideia de você e os outros. Isso é bem simples de se ver.
O: Explicar isso ou ver isso, não
muda o fato da desconexão e a ausência de intimidade.
D: Não tem jeito, esse vazio e
esse sentimento de desconexão não saem, você já acorda com eles todos os dias.
Mesmo com todo processo de descondicionamento, não deixamos de sentí-los.
O: Mas foi o próprio processo de
descondicionamento que ampliou o vazio ao arrancar o que foi percebido como
ilusório. Vivemos o vazio do real. A irrealidade já parte daquilo que pensamos
ser, essa pessoa com um traumático processo histórico. Estamos presos na própria
ilusão de uma história pessoal.
F: Pensamento, ideia de
desconexão e conexão, mesma fonte.
O: A desconexão não é um
pensamento: você a sente; o vazio não é um pensamento, você o sente.
F: É sempre a mesma fonte nomeando,
rotulando; é o pensamento que entra nomeando e isso segue sem fim.
O: Nomeia porque sente.
F: O pensamento não deixa passar,
fica nisso, sempre dando ênfase.
O: Não deixa passar, porque de
fato, não passa.
F: Tudo passa.
O: Ok. Vamos ver se tudo passa
mesmo: não dou 24 horas para você vir aqui e se queixar de algo.
F: Vamos ver.
O: Vamos ver quanto tempo seu
orgulho vai aguentar. Já vi esse filme várias vezes, e a grande maioria acaba
voltando aqui com as mesmas ladainhas de sempre; até que demorou com você. Vamos
ver se com você, a coisa será diferente; assim espero!
F: Que besteira! Que merda!... Beleza!
O: Mesmo esse “beleza cara!”... Já
vi isso e o movimento final é sempre o mesmo. Não vi um que conseguiu segurar o
vazio, a desconexão, a solidão, que conseguiu ficar consigo mesmo. Espero que
com você seja diferente. Todos acabam voltando para alguma tenda particular de
seu Egito pessoal (tipo a sala de anônimos) ou voltado aqui na Deca e no Out. Faço
votos que você consiga sustentar essa papo de que tudo é passante.
F: Ridículo o modo como foi colocado,
como se fosse codependência.
O: Ok, então sou ridículo; vai lá
e fica com seu passante, não volte aqui. Estou apenas compartilhando fatos, como
sempre fiz; e disse que espero que com você seja diferente.
F: Está tudo bem, deixa quieto!
O: Claro, como você disse, é tudo
passante. A estrutura é separatista; ela pega o que percebeu com a própria
observação, com o próprio conteúdo do paradigma, para evitar a possibilidade de
intimidade com os próprios confrades. Isso acontece com todos, sem exceção.
Entra aquele sentimento de “agora eu sei, não é nada disso!” e aí começam as
disputas e os melindres. Esse é o mecanismo que ocorre com “todos” nós. No
fundo, não sabemos nada, continuamos confusos, perdidos, desconectados, vazios,
sem nada de significativo para apresentar, incapacitados de ver beleza e graça.
Como já dissemos, a estrutura pega o paradigma e a observação para cristalizar
ainda mais nosso isolamento. Depois de tantos anos de busca, a única coisa que
posso afirmar é que estamos todos fudidos! Essa estrutura adulterada, adultera
tudo que toca.
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