23/12/2021

ENCARCERADOS

 O: Grande decepção o novo filme da série Matrix; só serviu para comprovar a decadência em que nos encontramos; em uma hora de filme, nem uma fala com teor significativo; tudo é só busca por lucros, bilheteria. Não há comprometimento com a verdade.

F: E nem quem está comprometido tem ela também. Tanto o pensamento quanto o sentimento estão zuados, não servem de prova para nada; na real, não provam nada. Chegamos num ponto onde não há onde se apoiar.

O: Um confrade acabou de me mandar uma poesia, na qual ele relata seu sentimento de estar trancafiado.

F: Eele sempre esteve

O: ENCARCERADO

Encarcerado neste PLANETA,

Encarcerado neste PAÍS,

Encarcerado neste ESTADO,

Encarcerado neste BAIRRO,

Encarcerado nesta RUA,

Encarcerado neste PRÉDIO,

Encarcerado neste APARTAMENTO,

Encarcerado neste CORPO,

Encarcerado em MIM......

F: Já nasceu trancado no útero. 

O: Penso que só existe um cárcere real: a estrutura egóica cristalizada em nós... É ela que cristaliza um modo de percepção limitado quanto a tudo que é, que nos impede de ver a exata natureza de tudo que é. É ela que nos mantém isolados, incapacitados de real conexão. Carecemos de uma percepção maior, saneadora, pois, não percebemos a realidade com plena nitidez, visto que os movimentos do imaginal e do sensorial, acabam adulterando a capacidade de nitidez. Nossas considerações pessoais adulteram a qualidade da percepção. Esse mundo experiencial que hoje vivemos, não é o mundo real, a vivência daquela coisa singular deixou isso muito claro.

M: Expus nessa poesia, a sensação opressora que me tomou no momento da escrita.

O: Estamos encarcerados em nossa própria bolha mental e emocional.

F: Aqui já está no ponto de foda-se também essa sensação.

O: Aqui também, muito antes de lhe conhecer.

F: Sério? Caraca! Eu te mando a real.

O: Mas permanece a emergência de algo além disso, pois não faz sentido ficar neste estado onde não há vida. Enquanto você não aprende a identificar o que passa na tela do imaginal e no sensorial, a depressão e as crises de pânicos são inevitáveis. No entanto, conforme você aprende a identificar o fluxo, SEM SE IDENTIFICAR COM ELE, sem REAGIR a ele, entra-se numa outra dinâmica. Quando você aprende também a perceber as mais variadas formas de impulsos emotivos reativos escapistas, que tentam escapar do que é percebido no fluxo, entra-se numa dinâmica mais amadurecida. Nessa dinâmica amadurecida, vemos que não temos mais o que fazer, que não temos como fugir disso e nem onde nos apoiarmos. Então, fica só um sentimento de emergência de entender o que significa tudo isso, mas um entendimento que seja DIRETO.

F: Para mim, aqui está tudo zuado. 

O: Esse é o ponto onde vejo que tanto eu, Deca, você e C. nos encontramos.

F: Acabamos entrando nisso, só que isso ai está zuado também. 

O: Se você se lembrar dos nossos primeiros contatos, sempre me referi a necessidade da ocorrência de um "insight libertário". Hoje temos a clareza de nosso estado de insanidade mental e emocional; temos também a clareza de nossa impotência para o alcance da sanidade; permanece a emergência de uma ocorrência, de uma compreensão, algo assim.

F: Para mim cai na questão: será que há isso de forma que isso fique permanente?

O: Nem entro nisso; o que percebo é a necessidade de uma compreensão maior, porque, quando ela entra, não sai mais; você não tem mais como sair da percepção que alcançou até aqui, portanto, a compreensão fica. Isso é inegável. 

F: Não discuto isso. 

O: A consciência que se alcança, torna-se permanente até o ponto em que essa consciência receba uma carga ampliada de consciência. Esse foi o movimento ocorrido até aqui. Usando os termos de M. que nos enviou a poesia, estamos encarcerados num nível limitado de consciência, apesar que essa limitação apresenta um nível significativamente superior à consciência ordinária em que todos se encontram.

F: O que a sensação prova? Porra nenhuma! Podemos escrever mil poesias, teses, livros... e daí?... Tudo parte da pessoa e sua mente insana, parte da estrutura que é insana. Portanto, a estrutura é incapaz de olhar para si de forma clara, coerente, com nitidez. 

O: Tudo isso que for escrito se encontra dentro do limitado alcance da consciência atual pela qual vemos o que temos por realidade.

F: Exato! A estrutura é incapaz de clareza, de lucidez. Ela, que é você, eu e todos, é incapaz de olhar claramente para si; pode ficar aí mil anos. 

O: Por isso a emergência de um insight que nos liberte do nível de consciência limitada em que nos encontramos.

F: Só milagre, se existir. Talvez seja esse o nível da coisa, de resto, vejo que é enxugar gelo: poesia, filmes, aulinhas, pinturas, sucesso financeiro, tudo fica nisso.

O: Exato! Se não ocorrer o despertar da sanidade, fudeu!

F: Não é que fudeu... É isso! 

O: Já há um nível de sanidade que nos permite, COMO NUNCA ANTES, alcançar uma clareza quanto ao estado insano em que nos encontramos; há uma sanidade enorme, a meu ver, em não mais se deixar ser controlado pelo fluxo do mental e do emocional; mas ainda é uma sanidade limitada. Trata-se de uma melhora, mas não de cura.

F: Exato! Qual o sentido de agora ficar olhando a insanidade, de ficar vendo o fluxo, de ficar sentindo as merdas?

O: É o que temos. 

F: Se não olharmos para fora disso, permanecemos na mesma situação inquietante.

O: Exato! Por isso afirmo o sentimento de emergência.

F: Não vejo sentido em ficar nem mais olhando a porra do imaginal e do sensorial. Por isso disse: foda-se isso tudo! Porque já sabemos que é insano! Passamos desse ponto de ficar ali olhando e tal. Essa etapa do processo já passou.

O: Sim, dali não vem sanidade. 


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