O: As ocorrências aqui no ambiente
familiar natalino, deixou bem claro que todos são tão doentes como nós; todos funcionam
com base na mesma estrutura isolada; ninguém ama, há uma preocupação enorme com
a proteção da própria imagem, e isso impede a manifestação de uma comunicação
real, impede a conexão, força um estado de politicamente correto, uma fala e
uma interação protocolar.
F: Ninguém se relaciona de fato.
O: Observação escancarou o falso,
o script, os discursos cristalizados, o jogo de manutenção de imagens.
F: Forte isso.
O: Não há como ter conexão real,
só simulação de conexão. Estamos todos fechados, lacrados, isolados, fugindo do
ambiente de algum modo, seja pela comida, pela, pela bebida, pelo cigarro, pela
tela do celular ou por assuntos que não dizem nada. Ver isso gera um certo desespero.
F: Chegou perto, a estrutura já
desconfia. Vivemos numa mentiropatia coletiva.
O: Não estamos bem em lugar
nenhum; é perceptível a movimentação calculada, a ausência de naturalidade.
F: A questão toda é essa: há um movimento
de interioridade, de isolamento. A coisa vem no peito, e você só sente.
O: Terrível.
F: A coisa cria uma inquietude
que nos mantém emocionalmente isolados... um fluxo tremendo de pensamentos. Esse
isolamento parece ser o núcleo de todo mecanismo. Para quem está ligeiro nas
relações, perceberá isso, assim como que não há ação de nossa parte que
modifique isso, que acabe com esse isolamento crônico. Para não nos sentirmos
ainda mais isolados, os pensamentos entram, numa tentativa de alcançar uma segurança
distorcida.
O: O estrago do lar neuro-compulsivo
é terrível. Forma uma estrutura mental e emocional com base no medo e no
cálculo autocentrado. Esse cálculo só cria apegos, dependências, impede a
conexão real.
F: O buraco parece ser até mais
embaixo.
O: Se o cálculo não é atendido,
começa um looping de novos cálculos autocentrados para o alcance de outro ponto
de apego. Enquanto a estrutura permanece, sem chance de conexão real, só
simulação. O uso do químico, a raiva ou a depressão quebram a simulação e a
realidade da estrutura adulterada se apresenta. Parece que só milagre mesmo.
F: Essa coisa nos encolhe; há um
circuito próprio, um isolamento natural, inato, uma postura de autodefesa. Coisa
estranha demais. Não se trata de algo pensado, mas sim, visceralmente sentido. Isso
nos mantém interiorizados, isolados; cria perspectiva própria que nos arranca
da experiência mais simples que rola no momento; não há o que fazer, a não ser
observar, sentir a estrutura em seu isolamento, criando perspectivas, só assistir
o delírio ocorrendo em forma de uma avalanche de pensamentos, tentando manter
como certo o que não está certo…
O: O "e se" parece ser
o núcleo da estrutura calculista autocentrada.
F: Não consegui refletir nisso,
estou olhando aqui. Como não há nada, ela vem com “e se”... Pode ser!
O: “E se” não tiver milagre que
nos tire disso? “E se” vier e não ficar?
F: “E se” ficar?
O: O “e se” é a essência do tempo
psicológico que nos impede de viver o instante em sua integralidade; ele é o combustível
do mecanismo da estrutura imaginal. O “e se” tem por base o medo e o medo, é a
estrutura e si. Onde está o "e se", não há nada de amor
F: Sim. Estou vendo como pode ser
o núcleo. Essa coisa isola sem que haja um medo real; trata-se de uma inata postura
de proteção.
O: Você percebe, sente o
isolamento, quer sair dele, mas não sustenta esse querer. Você percebe a
ausência de conexão, quer se conectar, mas não consegue de modo algum.
F: Sim, estou vendo isso
ocorrendo em mim aqui e a gora.
O: Também estou vendo aqui, não
só em mim, mas em quase todos que estão aqui “comemorando”.
F: Chegamos num ambiente, ou
alguém chega, e de imediato surge um sentido de interiorização, de
encolhimento.
O: Para quem tem olhos de ver,
fácil de perceber cada um em seu encolhimento.
F: Para sustentar tal encolhimento,
um carrossel de pensamentos vem auxiliar, pensamentos automáticos, centrados, com
teorias, achismos, fundamentalismos, etc., etc., etc. Tudo isso sustenta o
isolamento, a insanidade que é sentida.
O: Isso torna impossível a
conexão. Vejo aqui que sempre foi esse o mecanismo.
F: A meu ver, esse encolhimento é
o centro.
O: Quando a inquietude causada
por esse encolhimento se torna quase que insuportável, ela gera o impulso
emotivo reativo de sair destas pseudo-relações e achar liga em outras: outro
relacionamento, outro emprego, outras amizades, outro país... Esse me parece
ser o looping eterno de uma mente que não consegue conexão real.
F: Essa coisa sentida na garganta
e no peito é o núcleo... Mas olha o isolamento sentido. Perspectiva que se cria
para manter esse sentido de interioridade, de isolamento, de separação, para
mim, o núcleo é esse. Não se trata de algo pensado, isso está ocorrendo, está
sendo sentido, de modo muito profundo. Um sabor que sentimos desde criança, um
cheiro, algo familiar. Você tem aí, assim como eu tenho aqui.
O: Isolamento crônico desde a
mais tenra idade. É possível perceber isso em algumas crianças.
F: Sim.
O: É uma coisa no peito que nos
mantém isolados, trancados em nós mesmos, coisa essa que desce para o peito,
depois para a barriga, disparando o mecanismo do imaginal sensorial condicionado.
F: Exato. É bem isso!
O: Mas algo mudou com a
observação... Se instalou uma espécie de “foda-se”. Tudo isso é percebido aqui,
e no mesmo instante em que é percebido, rola também esse “foda-se”, esse dar de
ombros. Tudo que é percebido vindo da estrutura, é recebido com a mesma
qualidade de “foda-se”, é só mais uma dela. A coisa pede para sair correndo,
mesmo sem saber para onde, tal impulso é percebido e recebido com o “foda-se”. E
assim vamos indo, para ver até onde isso chega. Apesar do desconforto, sinto
que precisamos chegar numa espécie de consciente colapso assistido.
F: Sim, aqui também está ocorrendo
esse “foda-se”. Não há como manter nada mais no imaginal e no sensorial.
O: Isso. Mas fica lupando: Garganta,
peito, barriga, imaginal... Tudo parte da percepção do isolamento e da total impossibilidade
de conexão real.
F: Até mais que percepção, pois
isso é sentido aqui. O bagulho está aí desde criança.
O: Sim, sempre fomos isso;
trata-se de algo crônico. Você pode ver as crianças se escondendo quando chegam
os adultos...
F: Sim, esse impulso ao
isolamento parece ser algo inato.
O: Já tentamos de tudo para
quebrar esse isolamento, mas nada resultou de fato. Parece que só por meio de
um milagre. A própria observação não nos liberta dele, apenas nos dá condições
de observá-lo e sentí-lo, sem que ocorra a velha reação neurótica, seja no
sentido de alimentá-lo, ou de tentar fugir dele de algum modo.
F: Concordo! A observação acabou
se tornando outro condicionamento. Você fica preso nela vendo o looping. Loucura,
cara!
O: Insano.
F: Adquirir uma ferramenta, a
qual, após certo tempo, vira a própria condição limitante. Mas veja, ela vê, sem
ela, não havia possibilidade de ver isso. Ela nos mantém vendo a tela do
imaginal o tempo todo.
O: Não vejo isso. Vejo que a
observação não nos limita em nada... Ela só vê a própria limitação ocorrendo,
ela vê o que de fato nos limita, que é o que tem pra ver: só a estrutura limitada
e limitante. Isso tem que colapsar.
F: Só por meio de um milagre. Só
se ocorrer um olhar que não seja adulterado por isso.
O: Mesmo a observação do que é
sentido, não liberta da enorme letargia gerada pelo fluxo constante.
F: Mas veja, o mais loko disso, é
que tudo é subjetivo... O que rola ao redor, o que ouve, o que tem no ambiente,
assim como os demais sentidos... Não conseguimos sequer ver a nós mesmos, vemos
apenas a subjetividade. Essa é imaginaria; é essa porra que fica nos chamando a
atenção, esse mundo virtual, subjetivo. E todos estão nisso, cada um com sua subjetividade,
ninguém na ocorrência factual. Veja como é fácil perceber que ninguém ouve o
que é dito, ouve apenas o subjetivo.
O: Sim, as pessoas não escutam o
que é dito, mas sim, os próprios condicionamentos sobre o que foi dito. O
mecanismo de proteção, de isolamento, impede que a escuta seja objetiva, acaba
sempre jogando no subjetivo.
F: Isso é muito bizarro: ninguém
vê o que é visto, não consegue ficar ali, vê apenas o subjetivo. De imediato, pula
para a subjetividade, pula para isso, por não ser capaz de observar de modo
passivo e não reativo. Só que parece que não fomos educados a ficar no que é
visto, no que é ouvido; fomos educados a pular para o subjetivo.
O: Sim, por meio da nomeação ou
categorização.
F: Parece-me que aí está o lance:
o surgimento de algo que nos faça ficar com o que é, sem pular para o subjetivo;
ficar apenas no que é captado pelos sentidos.
O: Esse adestramento para a o
automatismo da nomeação, da qualificação e da categorização, tudo isso se instalou
de modo inconsciente.
F: Isso que também percebo. Não
foi algo consciente, fomos forçados a isso.
O: O próprio modelo escolar nos
joga nisso. Nunca ouve uma educação para a contemplação silenciosa do que é.
F: Parece-me que é isso que está
se instalando em nós nesta etapa do processo. Estamos nos tornando cada vez mais
conscientes, quem sabe isso role a qualquer instante.
O: Chegamos na percepção da trave
de tropeço que é o mundo subjetivo das palavras.
F: A subjetividade não nos interessa
mais. Ela nada tem a ver com o que é captado pelos sentidos. A subjetividade causa
a desconexão com o que é. Algo muito semelhante as crianças que falam de coisas
distintas e não ouvem umas às outras. Quero ver o indivíduo olhar para o
isolamento sentido, quero ver olhar aí. Quanto ao que surge no imaginal,
esquece veio! Sem saída ali.
O: Ali é só subjetividade
desconexa. O imaginal não incomoda mais, ele vem e vai sem causar qualquer
preocupação ou reação; foi visto que ali é uma ferramenta que está adulterada
pelo medo.
F: Imaginal não incomoda nada
mais.
O: Incrível chega nisso, nunca imaginei
que isso fosse possível. Se me falassem, não acreditaria. Veja, isso está
ocorrendo com a própria sensação do isolamento...
F: Sensação na garganta e no
peito.
O: O que os crentes chamam de “arder
no fogo do inferno”, é esse ardor que fica na garganta e no peito e que desce
para a barriga.
F: Esse fogo é uma zia que não é
azia... Vejo aqui, que o imaginal e o sensorial ainda exerce algum controle;
não no nível que era, mas ainda controla. O imaginal cai matando sobre essa
sensação, faz com que a subjetividade entre sobre ela. Se não fosse a
observação, estaríamos pedidos. Foi aí que quebrou.
O: Mas, até nisso está ocorrendo
o “foda-se”.
F: Exato! Visto que é apenas uma
somatização no físico.
O: Tudo está acabando no mesmo foda-se.
F: Há subjetividade nisso também,
só que mais sútil, uma subjetividade física.
O: Penso que isso deve ser parte
dos sintomas da retirada da antiga identificação adulterante.
F: Uma coisa é certa: Não reagimos
mais como antes.
O: Estamos em estado de imunização
da identificação, entende?
F: Pode ser isso. Chegamos num
ponto estreito do processo de descondicionamento, porque a mente viu a sua
limitação, sua incapacidade, viu que qualquer coisa que faça para sair de si,
ainda é ela; percebeu o conflito dela com ela. Ela percebe que, mesmo descrever
o que se vive, não coloca fim em si, ao contrário, dá continuidade a ela. Aquilo
que se observa, que se sente, não importa mais... Então não importa ser
descrito, porque, essa descrição é o meio dela dar vazão a ela mesma. Só que,
mesmo percebendo isso, recaímos nesse padrão de descrição, de nomeação
subjetiva. Recaímos porque é horrível ficar com o que se sente. Mas a descrição
é impermanente, pois, o que é postulado, em cinco minutos fica como vácuo. É
ela de novo, igual a sensação. Qualquer coisa que postulamos sobre a estrutura,
ela mesma cria a impressão de ser algo distinto dela, mas é do mesmo âmbito.
Quando se percebe isso, tome sensorial! Aí, só resta mesmo o foda-se, visto que
ela gera conflito eterno... Ela comigo, que é ela de novo, ela com ela, que
parece que -somos nós fazendo. Seria cômico se não fosse trágico.
O: A equação que o paradigma nos deixou:
Observação passiva = foda-se.
F: É bem isso: Foda-se surge logo
após a observação passiva não reativa. Qualquer movimento, de qualquer tipo,
por parte da mente, apenas dá força ao looping do pensamento, com suas buscas
invejosas, ambiciosas e aquisitivas. A mente se estiver totalmente ciente desse
fato… É a tal cobra venenosa! Todo esforço da mente para se libertar, implica
na continuação do pensamento; esse esforço está dentro de seu próprio círculo,
o círculo do pensamento, do tempo. Isso está visto. Por mais elevado que seja o
raciocino, ele não liberta. O ponto mais difícil está na percepção de que não
adianta nem mesmo o desejo de se libertar disso. Esse ponto é de fuder! Sabemos
que existe um estado singular de ser que é conexão pura e bem-aventurança; mas
sabemos também que não adianta desejar o retorno desse estado singular.
O: Aqui é o ponto mais
angustiante, a maior sensação de impotência.
F: Não adianta desejar, porque o
desejo, alimenta a continuação do pensamento com sua subjetividade.
O: Ficamos como que num purgatório
do imaginal.
F: Sim, querer aquilo, faz
continuar isso que nos inquieta e nos isola. Isso deve chegar ao fim. Não
aguentamos ficar quietos, é inquietante demais.
O: Você começará a conseguir ficar
quieto com a Inquietude.
F: Eu já consigo, mas é um ponto
estranho. A observação dá condições de ficar com o xeque-mate que se apresenta
aqui.
O: Se não despertar uma qualidade
de lucidez integrativa e libertária, permanece a estrutura medrosa, confusa,
dependente, calculista, sem um sentido real de interação. Cada segundo isso se
torna mais claro. Não há assertividade real na estrutura movida pelo medo.
F: Voltando à experiência deste
natal, não foi fácil!
O: Aqui foi terrível, familiar alcoolizado
criou situação angustiante, pesada, tensa. Mas isso não interessa; o que
interessa é entender essa dificuldade de interação. Entender a percepção disso,
bem como a vontade de alterar isso e a total impotência.
F: Penso que sim, entender esse crônico
senso de proteção, esse recuo, esse encolhimento, essa inata e instransponível sensação
de separação, porque a inquietude joga nisso.
O: Sim, todos a sentem e acabam
recaindo num modo particular de isolamento.
F: A percepção do isolamento, não
nos liberta do isolamento; a mente se vê incapaz, pelo exercício da vontade, de
se modificar.
O: Trata-se de um mecanismo
social, assim como a ilusão de afeto e amor.
F: Exato. A nossa estrutura
emocional cria uma coisa que parece ser mas não é.
O: O que há de fato, é só o jogo
de proteção da autoimagem; esse jogo de proteção, parece-me ser a essência do
isolamento. Inegavelmente, nesses encontros, podemos constatar facilmente a carência
de lucidez integrativa e libertária... estamos todos nisso.
F: Sei lá o nome da coisa, só sei
que é insano. Se olhar profundamente, vemos não saímos da raiva, dos traumas, da
estupidez da fúria e do recolhido ódio parental. Não saímos porque somos isso
misturado. A observação fez perceber isso também.
O: Porque é uma estrutura
traumatizada; ela guarda muito rancor, traumas do histórico parental.
F: A vida toda tentamos modificar
esses conteúdos, trazendo uma aparência de mais calmo, mais amoroso, mais legal,
menos medroso, etc. Mas somos isso!
O: Sem a menor sombra de dúvidas!
F: Aqui foi percebido que a menor
tentativa de modificar o conteúdo, só cria novo conteúdo que, em última análise,
é mais do mesmo conteúdo.
O: No fundo no fundo, somos
contidos traumáticos medrosos reativos.
F: Tentamos deixar de ser isso, mas
só criamos outra falsa imagem.
O: Sempre um personagem... pisa
no dedão, aperta um pouco e você vê a real...
F: Exato! O que tem ali é raiva
represada! Estamos todos nisso! A estrutura é isso!
O: Sim, e mesmo o fato de saber
isso, não nos dá o poder de sair disso.
F: Não sai porque vimos que é
inútil; ao tentar sair disso, só criamos outra versão de nós mesmos. Somos a
bosta toda... A própria ideia de fundo do poço da solidão estrutural, é só mais
uma da mesma merda de estrutura limitante.
O: A estrutura não quer mudar de
fato, quer apenas dar um jeito de acabar com a inquietude do momento; mesmo a
ideia de suicídio vem disso.
F: A estrutura que somos não pode
mudar por si.
O: Ela muda circunstâncias, a fim
de continuar protegendo sua continuidade. No que percebo, ela tenta de tudo
para impedir que se manifeste o seu fundo de poço integral; ela até permite
fundos de poço parciais, pontuais (droga, álcool, etc.); mas cria uma
identificação com a dor, com a inquietude, que permite algum impulso emotivo
reativo escapista. A identificação com tal impulso é a base do mesmo isolamento
que falamos a pouco.
F: Exato.
O: Nunca tivemos condições de
observar a inquietude do modo como observamos agora; sempre fugíamos para algum
ambiente, para alguma atividade; não conseguimos ficar ali, sem doações psicológicas
de fora, com a estrutura isolante, vendo com tanta clareza a dificuldade que
ela cria.
F: Nunca houve tanta facilidade...
Primeira vez na vida, somos capazes de observar o jogo todo, seja em você, no
ambiente ou no todo da sociedade. O filme que estreou dia 24 na Netflix,
chamado “Não olha para cima”, mostrou isso de modo cômico, essa incapacidade de
conexão que estrutura a sociedade.
O: Muito bom esse filme, enfim,
algo inteligente. Algo como um mergulho consciente nisso, vê que todas as
falas, todos os conteúdos da estrutura, surgem do conhecido limitante, o mesmo conhecido
que não libertou.
F: Não suportamos as pessoas, e
elas vivem o mesmo; só que ambos disfarçamos isso. Quando estamos “bem”, suportamos
por algumas poucas horas, toleramos, mas logo nos cansamos delas... A consciência
está pegando tudo.
O: Não penso que nos cansamos
delas propriamente, mas sim, da nossa encenação.
F: Estamos vendo de forma consciente,
todo o negativo ser revelado, estamos despertando para ver o que é, estamos saindo
do sono compartilhado. A observação está tornando consciente esse compartilhado
senso de isolamento, nos permitindo sentir isso, sem que sejamos afetados, sem cair
na lamúria, na autopiedade, sem nos envolver emocionalmente com isso... Apenas
ver, estudar, perceber. Com essa observação, a enxurrada de pensamentos que
sobem, e que sempre estiveram aí para a manutenção desse senso de isolamento,
não nos deixa pirar. Antes da observação, racionalizávamos para suportar essa
sensação; criamos uma perspectiva própria que nos permitia ficar isolados sem
enlouquecer. No fundo sempre foi essa sensação, a inquietude nos jogando aí. Sempre
pensávamos sobre o que havia de errado conosco, com os outros ou com o mundo,
mas, sempre foi aqui... O mundo é aqui, sou eu, não é fora. Pode tomar o café
agora sossegado.
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