Se você observar bem, constatará que aquilo que chama de educação, nada mais é do que, a transferência do mecanismo do pensamento condicionado. O que ela mais lhe condiciona, é para o domínio de uma técnica qualquer, através da qual você consiga um rentável e seguro emprego, ou possa fazer uso do conhecimento, para a própria satisfação e reconhecimento parental e social, para progredir conforme o padrão de sucesso, condicionado pela propaganda social, política e religiosa. Sendo a primária educação, um processo transgeracional de condicionamento, de modo algum ela pode criar indivíduos fortes, amorosos, integrativos, criativos e psicologicamente autossuficientes.
Portanto, o que você mais precisa
compreender, é o significado da autossuficiência psíquica. Talvez, por meio de
tal compreensão, o exercício diário de alguma técnica de especialização
profissional, possa ter seu real valor. Mas apenas cultivar uma capacidade
técnica, sem compreender o que é autossuficiência psíquica, só conduz à limitação,
à divisão, à destruição, à maiores guerras, e é exatamente isso que continua acontecendo
atualmente.
Para que exista autossuficiência
psíquica, a primeira coisa necessária é a total ausência do medo, não apenas o
medo forçosamente introjetado pelo parental-social, mas também o neurótico medo
da excessiva preocupação consigo mesmo. Você pode ter um ótimo emprego e escalar
o sucesso; mas se houver ambição e esforço para ser alguém, o medo estará
presente. Se você observar, constatará que mesmo o homem financeiramente
bem-sucedido, dotado de reconhecimento social, não é psicologicamente
autossuficiente.
Assim, o medo condicionado pela
tradição moralista, pela chamada responsabilidade em cumprir os padrões éticos
da sociedade, ou o seu próprio medo da morte, da insegurança financeira, do
desamparo afetivo e emocional, da doença, tudo isso impede o libertário estado
de autossuficiência psíquica.
Desse modo, enquanto existir
qualquer espécie de compulsão interior ou exterior, não existirá
autossuficiência psíquica. E a compulsão surge quando em você está presente, o
impulso para viver em conformidade com os padrões morais da sociedade, ou com
os padrões criados por você mesmo, sejam eles bons ou não. O pensamento
condicionado, que é produto do passado, da tradição, daquilo que se acredita
ser educação, de toda a experiência pessoal incompleta e incompreendida que
provém do passado, é que cria o padrão moral.
Portanto, enquanto existir
qualquer forma de compulsão governamental, religiosa ou pessoal, pelo desejo de
satisfação e prestígio, você não pode recuperar o libertário estado de autossuficiência
psíquica. Não é fácil promover a recuperação de tal estado, e tampouco entender
o que ele significa. Mas você pode ver que, enquanto existir qualquer espécie
de medo, não pode saber o que é a incondicionada liberdade.
Existindo medo, compulsão, tanto
individual quanto coletiva, não pode existir autossuficiência psíquica, amor,
felicidade e genuína criatividade e comunhão. Você pode especular a respeito da
autossuficiência psíquica, mas ela, de fato, nada tem que ver com suas ideias e
especulações sobre a mesma.
Sendo assim, enquanto você
estiver buscando qualquer espécie de segurança, e é isso que a maioria dos
indivíduos querem, enquanto você estiver procurando a permanência de qualquer
zona de conforto, não poderá deixar de se sentir ansioso, e com uma vida em
estado de limitação. Enquanto, individual e coletivamente, o indivíduo buscar
por segurança, obviamente haverá a permanência dos seculares conflitos, os
quais, ocorrem atualmente no mundo.
Só pode existir autossuficiência
psíquica, quando você compreende todo o processo do desejo de segurança e
permanência, desejo esse que você busca realizar, com ajuda de seu deus e dos novos
tipos de exploradores consultores. Você busca por segurança em suas relações
sociais e na escolha de seus governantes; eis por que você atribui a seu deus,
a segurança máxima, algo que está acima de si mesmo; você reveste aquela imagem
com a ideia de que, sendo uma entidade efêmera, pelo menos num imaginado lar
celestial, encontrará permanência. E assim, você começa desejando ser
permanente através da religião, e todas as atividades que realiza, políticas,
religiosas e sociais, quaisquer que sejam, baseiam-se nesse desejo de
permanência, de ter segurança, de se perpetuar através da família, da nação, de
uma ideia, ou através dos filhos. E como você pode ter a integrativa e criativa
liberdade da autossuficiência psíquica, se consciente ou inconscientemente,
está sempre buscando por permanência, segurança e prestígio?
O fato é que você não busca a
verdadeira liberdade; só está em busca por melhores condições de vida, por
melhor prestígio, através do qual possa alcançar maiores conveniências para si
e para os seus. Você não quer liberdade; só quer condições melhores, mais
elevadas, mais nobres, e a isso você chama de educação. Mas tal educação nunca
promoveu e nunca promoverá a paz e a igualdade no mundo, visto que a história
já nos deixou isso bem claro. Ao contrário, tal educação está criando cada vez
mais separação, preconceitos, guerras e misérias. Enquanto você alimentar a
separatista moral estabelecida, assim como o nacionalismo e seus símbolos, só
provocará rivalidade para si mesmo, para seu próximo e para a nação.
Em vez de um ser humano
integrado, criativo e livre, você é um indivíduo com um modo de pensar
fragmentado, imitativo e dependente; suas atividades são fragmentadas,
dispersivas, desintegradas, e você está sempre brigando e alimentando
intolerância. Esse é o resultado da chamada educação e liberdade, a qual você
busca e forçosamente tenta transmitir para os seus. Você diz que está religiosamente
unido, mas na verdade, você está sempre em luta com os demais, destruindo-se
mutuamente, pois você, por estar condicionado, não percebe a totalidade do
viver, visto que está interessado apenas com a segurança no futuro, ou em
conseguir um emprego melhor e mais rentável. Enquanto você pensa assim, de modo
direto ou indireto, compactua na perpetuação das guerras, da miséria, da
destruição, dos preconceitos e das diferenças de classes. Pensando estreita e
regionalmente, você jamais estará seguro, nem seus filhos, embora deseje estar em
segurança. Enquanto você insistir nesse imaturo modo compartilhado de pensar, sempre
estará ansioso, insatisfeito, limitado e conflitado.
Enquanto você se preocupar apenas
com uma vida melhor, com mais segurança, mais satisfação, com emprego
garantido, posição assegurada, tanto religiosa quanto politicamente, não poderá
criar um mundo novo, nem poderá ser um indivíduo realmente religioso,
inteligente e genuinamente criativo, e a imitação será sempre seu modo de ser. Apesar
de criticar os políticos, assim como eles, você só pensa em resultados
imediatos. E enquanto você entregar o mundo aos políticos, compactuará com a
destruição, guerras e miséria. Você é o responsável pela criação de um mundo
novo, e não os seus confusos e corruptos líderes políticos e religiosos; trata-se
da sua responsabilidade individual.
No entanto, você não pode buscar
por autossuficiência psíquica. Ela só nasce quando não existe medo, quando
existe amor no coração. Você não pode ter amor enquanto alimenta incertas
certezas emprestadas, o nacionalismo ou algum sistema de crença organizada. A
autossuficiência psíquica só nasce, quando você não procura mais por segurança
para si mesmo, quando não busca por doações psicológicas de terceiros, nem na
tradição, nem no conhecimento.
Uma mente adulterada ou
sobrecarregada pelo conhecimento, não é psicologicamente autossuficiente. Você
só é psicologicamente livre, quando é capaz de enfrentar a vida a cada momento,
de enfrentar a realidade que todo incidente, todo pensamento, toda emoção e
toda experiência revelam. E essa revelação se torna impossível, quando a mente é
adulterada por suas memórias psicológicas, as quais sustentam, manias, traumas
e tendências.
Cabe a você, a criação de um novo
e diferente ser humano, sem medo, autoconfiante, que possa fundar sua própria
sociedade, totalmente diferente da atual que está baseada no medo, na inveja,
na ambição, na corrupção e na dependência de autoridades externas. A autossuficiência
psíquica só pode ser recuperada, quando surgir a inteligência, ou seja, a
compreensão da totalidade do mecanismo mental-emocional e, em consequência, do
total processo da existência.
Texto adaptado dos ensinos de Jiddu Krishnamurti
Nenhum comentário:
Postar um comentário