O: Sem uma percepção além da
estrutura, permanecemos na estrutura e nas circunstâncias por ela estruturada.
F: Está tudo dominado pela
estrutura e não tem sequer o que fazer.
O: Não conseguimos ver as
circunstâncias de maneira nova, totalmente depurada da afetação adulterante do
cálculo autocentrado, livre da dependência criada pelo medo do desamparo, da
solidão e do ostracismo.
F: Sim, não vemos; é igual
aquelas melecas... Por mais que você estica, a coisa permanece grudada. Pela
mente condicionada, não há o que fazer, mesmo que não tenha medo. Nem medo
sinto mais, já não sinto mais nada, zero.
O: Não creio que isso seja verdadeiro.
F: Não há a mínima possibilidade
de sair disso.
F: Não sinto medo, mesmo que ele
venha, com a observação passiva, ele some, passa. O medo já não tem o mesmo
poder de antes, já não domina mais. Ele permanece em looping, se apresentando e
morrendo com a observação.
O: Mas ele ainda está aí.
F: Agora não, não tem nada aqui,
a não ser a sensação de saco cheio.
O: Se está de saco cheio, o que lhe
impede de esvaziá-lo?
F: Está bem Out... Beleza que é
assim... Aperta botão e pronto! Aqui não é assim não. Sorry! As coisas aqui
ficam um tempinho. Borá sorrir na frente das câmeras, que bosta!
O: O que te impede de largar isso,
ou de ver suas atuais circunstâncias de maneira nova?
F: Já vejo de outra maneira.
O: Tudo que é produto do cálculo
autocentrado, não tem amor e, sem amor, só pode gerar conflito. Enquanto
funcionamos no cálculo autocentrado, não há bem-estar, somente ajustamento, forçoso
comportamento politicamente correto, o desgastante cumprir de protocolos;
permanecemos no looping das circunstâncias sem amor.
F: Já não sou o politicamente
correto, mas não tem por onde correr, permanece a velha inquietude. Pode morrer
mesmo que acabou; só se ocorrer um “milagre”.
O: Sem uma percepção além da
estrutura, permanecemos na estrutura e nas circunstâncias por ela estruturada,
se relacionando com elas do mesmo modo estruturado.
F: Exato! Ainda bem que a vida
trouxe uns caras como vocês para dar uns toques na coisa.
O: Talvez nem sejam as
circunstâncias... Mas a necessidade de descobrir um novo olhar que não seja
cálculo, ajustamento ou responsabilidade forçada.
F: Para mim, está mais do que
claro que não são as circunstâncias.
O: Enquanto na estrutura, você
pode até abandonar suas atuais circunstâncias, mas, inevitavelmente,
estruturará circunstâncias igualmente vazias de real comunhão e sentido.
Percebo que dentro da estrutura, não tem para onde correr.
F: Trata-se de uma só coisa. O
que impressiona é que, mesmo com a observação, ela atraca numa coisa e fica,
seja qual for a bola da vez. É sempre a mesma forma de funcionamento, apenas
com roupagem distinta.
A: Exatamente, permanece na obsessão da vez. A inquietude é
medo.
O: Falta-nos a integridade da
lucidez não emotiva. Carecemos disso.
F: Sei lá! Independente do nome, não
tenho.
O: Tudo que fazemos está
adulterado pelo cálculo, pela emoção reativa ou pela carga do passado, pela experiência
do conhecido.
A: É o medo que nos impede de esvaziarmos
o saco. O medo anda de mãos dadas com todas as outras emoções, que foram nomeadas,
mas é uma só coisa.
F: Não esvazia porque o esvaziar é
também um produto do cálculo autocentrado. Percebe? A estrutura parece não ter
fim.
O: Mas estaria a resposta
libertária na ação emotiva de esvaziamento do saco? Logo ali, a estrutura
começa a estruturar novas circunstâncias que novamente trarão o mesmo conteúdo
que cria o sentimento de estar de saco cheio.
F: Estamos mais do que
conscientes de que não tem sentido sentir medo, mesmo assim, sentimos. Qual o sentido
viver diariamente afetado por loopings de medo? E vivemos! Não há sentido, a estrutura
calculista roda por si.
A: Sim, e o cálculo é medo em
ação. Não faz sentido nenhum viver seno afetado pelo medo.
O: Nosso saco está cheio é do
próprio olhar condicionado da estrutura.
F: Exato! Mesmo a mente vendo
isso, ela não esvazia. Ela viu isso, está vendo agora mesmo.
A: O próprio cálculo da mente não
é suficiente para esvaziá-la.
O: O que é preciso esvaziar, a
meu ver, é o olhar da mente estruturada. Uma mente estruturada no cálculo,
nunca saberá o que é comunhão real, nunca estará livre do processo adulterante
do cálculo autocentrado. Uma mente sem real comunhão, como pode saber o que é
bem-estar? Veja, não temos real comunhão com nada e com ninguém.
A: A estrutura tem que sofrer um
impeachment.
O: Isso, algo assim, algo que não
seja um produto dos seus cálculos.
F: Boa! Verdade! Isso faz total
sentido!
O: Estamos presos num looping de
cálculos autocentrados que impedem a real comunhão.
F: Somos insensíveis, pela compreensão
conseguimos ver que o outro também tem isso, mas a reação emocional sempre nos joga
para o lado do auto-interesse, para o cálculo autocentrado.
A: Tudo o que é causado pela
estrutura condicionada é sempre limitado, fragmentado, destituído de real
sentido.
O: Enquanto permanecemos nesse
looping, não há como saber o que é autonomia psíquica, liberdade, sentido real
de viver.
F: A sensibilidade da estrutura é
forçada, calculada. Estamos fudidos! Pela estrutura condicionada, não vejo
saída. Só não chuto o pau da barraca diante das minhas atuais circunstâncias,
porque percebo que isso é só mais um dos impulsos emotivos reativos escapistas
e separatistas da própria estrutura; é só mais um looping dela: largar relação,
sair do emprego, mudar de cidade ou de país, etc., etc., etc.
A: Não tem ação libertária e
integrativa por meio da estrutura.
O: Todos que funcionam dentro da
mesma estrutura, alimentam o impulso calculista e separatista... riscou o
cálculo autocentrado, ostracismo, cristalização da imagem previamente formada
das pessoas e situações.
A: Fato!
F: A estrutura é única! Isso é
fato mas, mesmo percebendo isso, ela permanece criando novas formas de looping,
criando outra imagem para tentar sair da imagem. É como no filme “A Origem”... Não tem saída! Já nem sabemos mais o que é sonho,
se é dentro do sonho ou de um sonho dentro de outro sonho. Ferrou tudo!
O: A meu ver, sem a ocorrência de
uma percepção libertária, integrada, não pontualizada, livre da emoção reativa,
não saberemos o que é o viver correto, o que é comunhão, liberdade, felicidade,
amor, vocação, ausência do cálculo autocentrado, permanecemos no looping.
F: Pode ser isso. Já nem sei!
O: A expressão "não
sei", demonstra a ausência da percepção que integra à realidade.
F: Mas é real. Eu já não sinto o
medo como antes, já não estou sendo dominado por ele. Não estou sendo hipócrita.
O: Sinto que precisamos de um
contato com algo, em nós, que não faça parte da estrutura calculista.
F: Tem que ocorrer algo além da
estrutura limitada que somos, senão, é isso.
O: Veja bem: algo "em
nós"... não algo vindo do céu, de outra dimensão ou fora disso que somos. Creio
que até aqui, dissecamos muito bem a estrutura e seu funcionamento, ao ponto de
percebermos que, por mais esclarecida que seja essa estrutura, ela não tem
como, por si mesma, superar sua limitação de percepção da realidade. Em vista
disso, é preciso a manifestação de um poder superior de percepção à própria
estrutura; algo que surja de alguma dimensão interna não tocada pelo cálculo,
pelos preconceitos, pelas manias e tendências, pelas falsas dependências.
A: Isso!
F: Se vier do céu, tudo
bem... Não interessa de onde vem. Já tivemos uma breve amostra de que aquele
estado integrado de ser, não se limita nem mesmo ao nosso corpo.
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