Outsider: Você já começou a perceber, enquanto dorme, a ação do imaginal-sensorial, identificando-o como tal? Se ainda não, saiba que isso passa a ocorrer. Esta noite foi a experiência mais forte que já vivi disso: via todas as imagens e sensações ruins durante o sono, via que estava dormindo e que aquilo era a mecanicidade não solicitada do imaginal-sensorial. Tudo era identificado, tudo; inclusive, no próprio sono, identifiquei que aquilo era muito semelhante ao que ocorre no filme A ORIGEM... camadas cada vez mais profundas de observação. Enquanto não existe instalada a observação passiva não reativa (OPNR), somos como sonâmbulos, depois, quando estamos acordados, estamos dentro de um sonho, dormindo dentro de um sonho dentro de outro sonho. Antes da OPNR, nunca questionamos a realidade, mas, agora, sabemos que ainda estamos sonhando; sabemos que ainda não DESPERTAMOS na liberdade de nossa exata natureza incondicionada, que ainda estamos numa espécie de “coma induzido” por nossos condicionamentos. Podemos dizer que, com a instalação da OPNR, quando ela começa a ocorrer por si só, sem qualquer esforço de nossa parte, ela começa a se aprofundar em todos os momentos de nossa vida, produzindo assim um estado em que o próprio sono vai se tornando lúcido.
Num determinado momento do sono,
eu estava num local com várias senhoras que falavam bem de um finado Guru, e eu
lhes disse que elas não tinham observado bem a realidade, enquanto ao mesmo
tempo eu observava que aquilo era parte do sonho que eu estava tendo. Agora o
imaginal-sensorial é visto no instante que surge.
Felipe: Caracas! Está rápido!
O: Ainda fica um
sentimento de peito sufocado, uma espécie de angústia por não saber o real
sentido do dia, visto que não se apresenta nada que toque realmente. Na real, é
percebido que nunca houve nada que tocasse realmente, mesmo no esporte ou sexo,
era apenas EUFORIA. Nunca houve nada em que o AMOR estivesse presente. O esporte
e o sexo, só aplacavam o tédio de modo eufórico, quando acabava, a insatisfação
estava lá. Fica esse sentido da falta de uma percepção superior, a qual
esclareça tudo de vez, e que nos faça INTEGROS. É o que percebo aqui, neste
exato momento.
F: Faz sentido!
O: não havia amor nem no esporte
e nem no sexo, aliás, o esporte era buscado porque o mesmo exaltava nossa
personalidade complexada; era um ambiente onde a personalidade se sentia
superior aos demais. Hoje, sinto-me como um estrangeiro, tanto nesta decadente
sociedade, como dentro de mim mesmo; mas tudo isto é visto não de modo
depressivo, mas com uma certa qualidade de lucidez não reativa. Existe a
percepção de que não há real sentimento por nada, por ninguém, mas isso não é
visto nem com culpa e nem com conformismo.
F: A culpa emerge mesmo!
O: A fase da culpa já passou,
hoje não tenho mais, uma vez que compreendi que isso é a estrutura; se a
estrutura colapsar, essa capacidade de interligação real deve estar ai.
F: A culpa ainda vem subindo
bastante aqui.
O: só observe, e veja que não há
como ser diferente.
F: Sim, faz sentido!
O: Por meio de uma observação não
emotiva, fica fácil perceber que, quem se encontra funcionando por meio da
mente adquirida, não sabe o que é amor, apesar de defender com unhas e dentes, que
sabe o que é o amor, e que ama de verdade.
F: É um pensamento com teor de
culpa apontando o nada; não é fácil, me sinto como se estivesse morrendo.
O: Quando você vê que a grande
maioria não sabe o que é o amor, permanecendo as compartilhada simulação, e percebe
que isso é natural, você passa a querer saber o que é a realidade do amor, a
qual nunca é pessoal.
F: Faz sentido, isso ocorre aqui.
O: fomos condicionados a
acreditar que amor é paixão; as historinhas infantis com seus príncipes e
princesas, as músicas, as novelas e filmes, criaram essa INVERSÃO de percepção
do que é amor e a culpa é esse condicionamento fazendo exigências descabidas da
estrutura. A culpa, o condicionamento e a exigência é tudo a estrutura. Hoje é
fácil perceber que a OPNR nos torna sociáveis, mas não seres amorosos.
F: Parece condicionamento, ideias...
Nem me atrevo querer saber o que é o amor; momento aqui é outro.
O: Acabou isso também de
estipular tempo, pois é visto como mimimi da estrutura. Aliás, quanto mais
ficamos nos eventos sociais, mais conhecemos sobre a estrutura que funciona em
todos que estão no evento; mais vemos com clareza o quanto nada sabemos do amor,
o quanto que alimentamos imagens da sociedade, do outro e de nós mesmos.
F: Sim.
O: Não sou mais responsável em
apontar a estrutura para os que estão no evento, mas me sinto responsável em
sair da estrutura.
F: É bem por aí.
O: Uma vida estruturada nos
condicionamentos sociais e pessoais, não vale a pena ser vivida. Tal mente nada
sabe do amor, só sabe de apego, dependência e busca pela satisfação dos
instintos adulterados. Fomos condicionados a acreditar que o amor está localizado
na tal alma gêmea, com a qual SEREMOS FELIZES PARA SEMPRE. Esse é um dos
maiores condicionamentos, e é ele que mais faz exigências de nós mesmos e dos
demais. O amor não pode ser pontual, setorizado; no pontual, no setorizado,
sempre haverá cálculo autocentrado.
F: É ele mesmo, um amor
condicional, um amor exigente com base no cálculo autocentrado.
O: O fato é; NADA SABEMOS DO AMOR...
Esse é o nosso oco... Sem o amor transpessoal, tudo é vazio, tudo é apego,
dependência, insegurança e ilusória necessidade de controle... tudo é
superficial, banal demais.
F: Isso.
O: Sem o amor real, é inevitável o
forçoso exercício da simulação, do politicamente correto que sustenta nossa compartilhada
hipocrisia.
F: Está claro demais.
O: Sem o amor real, é inevitável
o mal-estar em qualquer lugar que você se encontre.
F: Mas fica claro que não sabemos
nem o que significa... algo do tipo como se soubéssemos, não é?
O: Para nós, o amor é só uma desgastada
palavra, com a qual tentamos apontar algo totalmente diferente do modo que
somos. Você pode deixar de lado a palavra amor... use comunhão, integração,
criação, liberdade, felicidade, compaixão... nada sabemos disso... sabemos o
que não é isso.
F: Saquei: muito claro o que você
vem apontando.
O: Nada sabemos do estado de
incausado bem-estar.
F: Sim, a inquietude se instala
logo que acordamos, até a hora de dormir, isso, quando nos deixa dormir.
O: Sabemos o que é o mal-estar do
qual estamos sempre tentando fugir pelo cigarro, pelo álcool, pelas drogas,
pelos joguinhos, pelos livros, sites e tudo mais que é criado pela estrutura...
O é o estado que dispensa a vivência de tudo isso, é o estado sem fuga, é o
real.
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